sábado, 23 de dezembro de 2017

21D

Depois do 11M (11 de Março, data do atentado contra a rede ferroviária suburbana de Madrid que o governo do PP então liderado pelo histrião José Maria Aznar se apressou a atribuir ao movimento separatista basco, ETA) a Espanha parece vir a ficar marcada pelo 21D (21 de Dezembro, data das mais recentes eleições na Catalunha), de uma forma que associa dramaticamente o PP ao pior que a Espanha nos tem dado.


Depois dumas eleições impostas por Madrid onde «Carles Puigdemont ganha força apesar do resultado do Ciudadanos», bem pode o actual líder do PP e primeiro ministro de Espanha anunciar que o «bloco independentista “não representa a vontade de todos os catalães”» que em nada alterará a realidade que o próprio criou com a aplicação do famigerado Artigo 155 da Constituição Espanhola quando ditou a suspensão da autonomia da região catalã, a demissão dum governo (Generalitat) democraticamente eleito e a prisão ou o exílio de alguns dos seus membros, nem o facto da participação nestas eleições terem alcançado os 83% de participação, depois das de 2015 terem atingido os 75%.

Com o apoio da generalidade das forças políticas espanholas o PP recuperou as velhas soluções imperativas que há séculos têm servido para fazer germinar legítimos anseios de autonomia entre os catalães, agudizados pela redução do investimento do governo central na Catalunha, determinado pelo eclodir da crise económica global em 2008, e a reversão pelo Tribunal Constitucional, decidida em 2010, do estatuto autonómico que vigorava desde 2006. O resultado foi um extremar de posições que culminou com a realização dum referendo local ilegalizado pelo governo central e impedido de concretizar pela presença de um aparelho policial não catalão.

Apesar das dúvidas levantadas sobre os limites do Artigo 155, o governo de Mariano Rajoy (com o apoio do rei Filipe VI) não hesitou na sua aplicação, no derrube do governo local e na marcação de eleições antecipadas, cujo resultado o jornal espanhol EL PAIS resumiu com um lacónico: «“Volvemos a estar en el punto de partida”». Transformando um problema de natureza política num problema judicial, Rajoy pode tê-lo adiado, mas nunca resolvido!

E assim é! «O plebiscito que veio baralhar e voltar a dar» numas eleições – realizadas sob um estado de democracia limitada e com parte dos candidatos detidos ou exilados – onde a vitória do Ciudadanos (movimento liberal de centro direita, criado em reação ao independentismo catalão obteve o melhor resultado de sempre dum partido não independentista) não evitou que o conjunto dos partidos autonomistas que integraram a destituída Generalitat (JxCat, ERC e CUP) mantenha a maioria de deputados, a ponto de se poder dizer que «Perde Rajoy e ganha o independentismo em noite agridoce para Arrimadas», a líder dos Ciudadanos.

O futuro próximo da região – e por extensão da própria Espanha – continuará a mesma incógnita, a ponto de se poder dizer (como o fez o LE MONDE) que o resultado do 21D representa «O triplo fracasso de Mariano Rajoy na Catalunha», pois este tentou contrariar a tentativa de secessão do governo de Carles Puigdemont, restaurar a estabilidade da região (e do país) e quebrar o impeto aos independentistas e obteve em resposta a recondução da maioria independentista e a quase completa erradicação do seu PP do panorama político catalão. Os fortíssimos apoios institucionais dados ao Ciudadanos e as fortes condicionantes de actuação proporcionadas aos apoiantes do nacionalismo catalão acabaram por se revelar insuficientes para conter a evidente vontade demonstrada nas urnas, onde a vitória do Ciudadanos talvez se deva apenas ao facto da Esquerra Republicana de Catalunya (ERC) e o Junts per Catalunya terem concorrido isoladamente, quando em 2015 o fizeram em conjunto conseguindo então 39,5% dos votos.

Embora se diga que a líder do Ciudadanos, Inês «Arrimadas duvida que independentistas consigam acordo», dificilmente resultará outro quadro que não a formação de mais um governo catalão pelos partidos autonomistas, não sendo sequer de excluir uma possível aproximação ao menos radical Catalunya En Comú (o Podemos catalão que com 8,9% dos votos elegeu 8 deputados), o que poderia ditar até alguma flexibilização nas inevitáveis negociações que se têm de seguir com o fragilizado Mariano Rajoy.

A seguir...

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