Se no plano
económico não têm faltado boas notícias para o governo de António Costa, agora
que até o «FMI aplaude progressos e diz que meta do défice pode ser
atingida “confortavelmente”», já no plano político as últimas semanas têm
sido madrastas.
Primeiro foi
aquele fatídico incêndio florestal que ceifou mais de meia dezena de vidas e
depois o estranho caso do assalto aos paióis de Tancos. Se neste último o «Ministro
da Defesa assume "responsabilidade política" pelo assalto a paióis em
Tancos», no primeiro continuamos a assistir ao espectáculo diário do pingue-pongue
de desculpas entre os diferentes intervenientes sem que até agora a respectiva
ministra, Constança Urbano de Sousa, tenha dado o menor sinal de entender o cerne
do problema: um ou vários dos organismos que tutela falharam em situação de
elevada pressão. Enquanto o seu colega de governo, Azeredo Lopes, já veio
assumir publicamente as suas responsabilidades – nem que seja pelo simples
facto de dirigir o ministério que tutela o exército e as instalações objecto de
furto – a Ministra da Administração Interna estará talvez à espera que seja o
Primeiro Ministro a apontar-lhe a solução.
É claro, para
quem queira analisar as duas ocorrências com um mínimo de objectividade, que os
infaustos acontecimentos poderiam ter ocorrido neste ou noutro qualquer
governo; a falta de ordenamento florestal, o abandono dos campos e desertificação
do interior do país datam de há décadas sem que tal pareça alguma vez ter
incomodado estes ou os anteriores governantes. A insistência na opção por uma
estratégia de combate aos incêndios no lugar da sua prevenção foi escolha de
vários governos, assim como o foi a do famigerado sistema SIRESP (Sistema Integrado das Redes de Emergência e Segurança de Portugal),
envolto em polémicas (seja pelos custos, estimados em mais de 500 milhões de
euros, seja pelas ligações ao universo BPN de alguns “parceiros” no negócio ou
pelas recorrentes queixas sobre as suas falhas) desde a primeira hora.
Importante
agora era que desta vez não ficassem dúvidas sobre os efectivos esforços para
colmatar os erros e que as explicações não se resumam, como habitual, a um
confortável processo de difusão de culpas. Isto é o mínimo a esperar para que o
governo, que tão bem tem sabido demonstrar que, ao contrário do que afirmavam
Passos Coelho e Paulo Portas, havia alternativas na aplicação duma política de
contenção orçamental que não a transformasse num processo de radical empobrecimento
dos portugueses, mantenha a credibilidade que soube conquistar.
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