quarta-feira, 5 de julho de 2017

COSMÉTICA DE ALTO RISCO

Com a aproximação da próxima cimeira do G20, que terá lugar este fim-de-semana em Hamburgo, e depois de notícias onde se assegura que «Trump prepara guerra comercial global antes da cimeira do G20» eis que o mesmo preparou uma pequena paragem na Polónia para melhorar a sua imagem.

Isto mesmo foi anunciado pelo LE MONDE numa notícia onde não esquece de referir a grande proximidade de ideias entre o partido no poder em Varsóvia (o PiS, Partido da Lei e da Justiça liderado pelo inefável Jaroslaw Kaczynski) e o próprio Trump, com especial destaque para as ideias populistas anti-emigração e anti-islâmicas, o nacionalismo e o soberanismo. Estas posições, claramente assumidas pelo governo da senhora Beata Szydlo em questões como emigração e as liberdades cívicas, ver-se-ão reforçadas com a visita dum presidente americano que espera em troca um “banho de popularidade” para efeitos de propaganda interna numa altura em que até se diz que os «Americanos confiam mais na CNN que em Donald Trump».


Claro que existem outras razões para esta opção de Donald Trump – fala-se de interesses norte-americanos no fornecimento de gás e da polémica questão duma NATO onde a Polónia parece ser um dos poucos países que cumpre a tal quota dos 2% do PIB em gastos militares – e a situação na Europa não pode deixar de ser uma delas, tanto mais que está prevista a participação de Trump numa reunião da Cimeira dos Três Mares (uma iniciativa polaca e croata que agrega uma dúzia de estados entre os mares Báltico, Adriático e Negro, organizada para retratar a Polónia como uma espécie de líder regional em oposição ao eixo Paris-Berlim) algo que é visto com enorme suspeita no resto da Europa.

Mas será que o Brexit em desenvolvimento (com o que isso significará duma ainda maior convergência de interesses entre o Reino Unido e os EUA) e uma estratégia americana aparentemente errática pode, como hoje mesmo escreveu Adriano Moreira no DN, “...ter efeitos colaterais positivos, porque a pressentida quebra da solidariedade atlântica, pela incerta visão do parceiro americano, tem sinais de reanimar a solidariedade da União...”, ou o seu resultado será um aprofundamento da crise de liderança da UE, quando ninguém esconde que a «Visita de Trump à Polónia aumenta receios de mais divisões na Europa»?

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