No quadro da
apresentação dum candidato à Câmara do Funchal, o primeiro-ministro António
Costa afirmou que os «Lesados
do Banif confiaram "num sistema que os aldrabou"»,o que só poderá
espantar por vir de onde vem: um chefe de Governo que há semelhança dos
antecessores tem mantido intactas as prerrogativas dum sistema financeiro
vocacionado para servir os interesses do capital especulativo.
Os chamados
“lesados do BANIF” (como acontece com os “lesados do BES” e outros “lesados por
outros bancos”) surgiram na sequência de processos de resolução dos bancos
cujos clientes adquiriram produtos financeiros (acções, papel comercial e
outros títulos financeiros) que sofreram degradações acentuadas de valor.
Infelizmente este não é um tema novo nem ficará seguramente esgotado com
qualquer que seja a solução proposta para compensação daqueles “lesados” que na
sua maioria são clientes particulares (pequenos aforradores) aliciados pela
perspectiva de ganhos superiores aos dos depósitos a prazo ou dos títulos do
Tesouro.
E aqui começam
dois problemas; os bancos venderam aos seus clientes de retalho (maioritariamente
sem a cultura financeira indispensável à correcta avaliação dos riscos
envolvidos) produtos financeiros nos quais detinham interesses directos (eram
emitidos pelo próprio banco ou por empresas suas participadas), aliciando-os
com a perspectiva de ganhos acima do normal. Segundo, fizeram-no através da
respectiva rede comercial usando empregados igualmente desconhecedores dos
riscos associados aos produtos que estavam a vender, aliciados a fazê-lo graças
a mecanismos de prémios ou , pior, mediante pura e dura coacção psicológica.
Nada disto
constitui problema novo (veja-se o post
«A
BANCA NA JUSTIÇA?», que escrevi em Abril de 2007 a propósito dum “problema”
então surgido no BCP com a venda na rede de retalho de acções do próprio banco,
onde o despautério chegou ao ponto de “oferecer” crédito para a realização da
operação) nem a solução poderá deixar de passar por uma radical mudança na
regulamentação da actividade bancária que imponha a separação entre a
actividade de banca comercial (captação de depósitos e colocação de crédito) e
a da banca de investimento.
É claro que «António
Costa não tem dúvidas de que lesados do Banif foram aldrabados», nem eu
tenho a mínima dúvida que este é um tema que continuará sem solução óbvia à
vista, tanto mais que é um problema geral duma economia onde a especulação continua
a importar mais que o investimento produtivo.
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