Mais uma
edição do World Economic
Outlook, divulgada pelo FMI
na passada segunda-feira, corre nas páginas dos jornais, que destacam que o «FMI
confirma retoma mundial e revê em alta crescimento da zona euro».
A par desta
aparente boa notícia (que vem na sequência e confirmação da expectativa
formulada em Abril), aquele organismo não deixa de alertar para «Os
10 riscos que ameaçam a economia mundial, segundo o FMI»:
- incertezas
sobre Trump e o Brexit;
- tensões
financeiras na China;
- tensões
geopolíticas que incentivem políticas proteccionistas e outros factores
não económicos;
- orientação
restritiva da política monetária nas economias desenvolvidas (EUA e zona
Euro);
- situação
do sector bancário da zona Euro;
- recuo
da regulação financeira;
- crescimento
persistentemente fraco da produtividade;
- desequilíbrios
nas contas externas de algumas das principais economias;
- desigualdade
crescente provocada pela globalização, digitalização e um crescimento não
inclusivo;
- abandono
do multilateralismo, nomeadamente com a ascensão do protecionismo e das
políticas de soma nula.
Embora
outros factores apontados apenas às economias mais desenvolvidas – persistência
num excesso de capacidade produtiva; envelhecimento populacional; fraco
investimento; crescimento lento da produtividade; baixa inflação (inferior à meta
dos 2%); risco de rápida ‘normalização’
da política monetária da Reserva Federal norte-americana; resistência à subida
dos salários; desequilíbrios na balança externa (sejam défices ou superhavits);
crescimento não inclusivo (estagnação dos rendimentos reais médios) e aumento
da desigualdade ao longo das últimas décadas – também devessem ser estendido ao
conjunto da economia mundial (globalização oblige)
e quase todos merecessem análise mais detalhada, gostava de me fixar, por
agora, apenas num deles: o recuo da regulação financeira.
Esta
afirmação é apenas mais um sinal da medonha hipocrisia que sempre rodeou a
actuação do FMI. Organismo criado, a par com o Banco Mundial, na sequência da
Conferência de Bretton-Woods que serviram de base ao sistema económico e
financeiro do pós-guerra e destinado a apoiar a reconstrução do fistema
monetário internacional, acabou a financiar os desequilíbrios das balanças de
pagamentos dos cinco continentes segundo uma ortoxia própria (o Consenso de
Washinton, que se pode resumir como conjunto de medidas – composto por dez
regras básicas: disciplina fiscal; redução dos gastos públicos; reforma
tributária; livre formação das taxas de juro e de câmbios; abolição das
barreiras comerciais (pautas aduaneiras); investimento estrangeiro directo, com
eliminação de restricções; privatização das empresas públicas; desregulamentação
(afrouxamento das leis económicas e trabalhistas); direito à propriedade
intelectual – formulado em Novembro de 1989 por economistas do FMI, do Banco
Mundial e o Departamento do Tesouro dos EUA, fundamentadas num texto do
economista John Williamson, do International Institute for Economy, e que se
tornou a política oficial do Fundo Monetário Internacional em 1990, quando
passou a ser "receitado" para promover o "ajustamento
macroeconômico" dos países em desenvolvimento que passavam por
dificuldades) que sempre aplicaram de forma dogmática onde que que fossem
“chamados” a intervir e que o transformou no principal no baluarte da
globalização e da desregulamentação...
Nada
que os impeça agora de derramarem “lágrimas de crocodilo” sobre o recuo duma
regulamentação financeira que eles próprios sempre impuseram e de nunca terem
permitido a menor discussão sobre o assunto, porque o Consenso de Washinton é
que está correcto e cosntitui uma verdade universal!
Mês
após mês, ano após ano, relatório após relatório, os técnicos do FMI não param
sequer para perceber que o que o seu trabalho possa ter de eventualmente
positivo perde-se de imediato perante a hipocrisia dos seus dogmas e
postulados. E pior, fosse na América Latina ou no Sudoeste Asiático, na Rússia
ou mais recentemente na Europa, nunca as políticas recomendadas pelo FMI tiveram
outro objectivo senão o do aumento da desigualdade.
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