terça-feira, 7 de março de 2017

AI COSTA! A VIDA COSTA...

Desde a divulgação, pela SIC, da reportagem “Assalto ao Castelo”, da autoria do jornalista Pedro Coelho, que a questão da actuação do Banco de Portugal (BdP)no processo de resolução do BES voltou à ordem do dia.

Quando parece cada vez mais evidente que os argumentos aduzidos na Comissão Parlamentar de Inquérito por Carlos Costa, Governador do Banco de Portugal, não colhem junto da generalidade da opinião pública, para não falar sequer dos chamados “lesados do BES”, não se estranha que haja quem afirme, como Daniel Oliveira, que «Carlos Costa tem de se demitir», por acreditar que «...teve acesso a todos os sinais de perigo. E tinha os instrumentos para agir. Sabíamos tudo isto antes de ver “Assalto ao Castelo”. Agora sabemos que ignorou os seus próprios serviços».

O busilis é que, como explica Nicolau Santos em «As sete falhas graves do governador», em nome dum conceito de independência do poder político (tal como a definiu o BCE) o governador de qualquer banco central do eurosistema só pode ser afastado do cargo em caso de falha grave, mas «...o BCE esqueceu-se de tipificar o que é uma falha grave, o que torna virtualmente impossível a um Governo nacional demitir o governador do seu banco central...». Não sendo por ausência de falhas graves (Nicolau Santos apresenta sete no referido artigo), concluir-se-á que a sua manutenção no cargo serve os interesses de todas as partes envolvidas, a saber: o conjunto do sistema bancário para quem o actual governador é visto (como em tempos concluiu a deputada Mariana Mortágua como “colega” e não como regulador; os políticos para quem a questão da regulação parece de pouco relevo, ou a sua manutenção não oferecesse ao governo de António Costa um argumento permanente para o confronto político com o PSD e o CDS e à oposição (PSD e CDS) não lembrasse a actuação de Vítor Constâncio, o antecessor de Carlos Costa, para justificar a deste.

Excluída, como vimos, a hipótese de afastamento entende-se perfeitamente a urgência com que «Carlos Costa quer explicar "assalto ao castelo" no Parlamento»: é indispensável esclarecer qualquer dúvida que possa ensombrar a personalidade que publicamente assegura a lisura e a competência dos banksters!


Assim, dentro em pouco, Carlos Costa voltará ao Parlamento onde rasgará as vestes pela sua competência, integridade e pundonor (mesmo que saibamos agora ter sido aconselhado pelos técnicos do BdP a retirar a idoneidade a Ricardo Salgado, coisa que não fez), continuando a atirar poeira para os olhos de quem ainda queira acreditar na isenção e superior missão de salvaguarda do interesse geral dos bancos centrais.

Sem comentários: