Desde a
divulgação, pela SIC, da reportagem “Assalto ao Castelo”, da autoria do
jornalista Pedro Coelho, que a questão da actuação do Banco de Portugal (BdP)no
processo de resolução do BES voltou à ordem do dia.
Quando
parece cada vez mais evidente que os argumentos aduzidos na Comissão
Parlamentar de Inquérito por Carlos Costa, Governador do Banco de Portugal, não
colhem junto da generalidade da opinião pública, para não falar sequer dos
chamados “lesados do BES”, não se estranha que haja quem afirme, como Daniel
Oliveira, que «Carlos
Costa tem de se demitir», por acreditar que «...teve acesso a todos os sinais de perigo. E tinha os instrumentos para
agir. Sabíamos tudo isto antes de ver “Assalto ao Castelo”. Agora sabemos que
ignorou os seus próprios serviços».
O
busilis é que, como explica Nicolau Santos em «As
sete falhas graves do governador», em nome dum conceito de independência do
poder político (tal como a definiu o BCE) o governador de qualquer banco
central do eurosistema só pode ser afastado do cargo em caso de falha grave, mas
«...o BCE esqueceu-se de tipificar o que
é uma falha grave, o que torna virtualmente impossível a um Governo nacional
demitir o governador do seu banco central...». Não sendo por ausência de
falhas graves (Nicolau Santos apresenta sete no referido artigo), concluir-se-á
que a sua manutenção no cargo serve os interesses de todas as partes envolvidas,
a saber: o conjunto do sistema bancário para quem o actual governador é visto
(como em tempos concluiu a deputada Mariana Mortágua como “colega” e não como
regulador; os políticos para quem a questão da regulação parece de pouco relevo,
ou a sua manutenção não oferecesse ao governo de António Costa um argumento permanente
para o confronto político com o PSD e o CDS e à oposição (PSD e CDS) não lembrasse
a actuação de Vítor Constâncio, o antecessor de Carlos Costa, para justificar a
deste.
Excluída,
como vimos, a hipótese de afastamento entende-se perfeitamente a urgência com
que «Carlos
Costa quer explicar "assalto ao castelo" no Parlamento»: é
indispensável esclarecer qualquer dúvida que possa ensombrar a personalidade
que publicamente assegura a lisura e a competência dos banksters!
Assim, dentro
em pouco, Carlos Costa voltará ao Parlamento onde rasgará as vestes pela sua
competência, integridade e pundonor (mesmo que saibamos agora ter sido aconselhado
pelos técnicos do BdP a retirar a idoneidade a Ricardo Salgado, coisa que não
fez), continuando a atirar poeira para os olhos de quem ainda queira acreditar
na isenção e superior missão de salvaguarda do interesse geral dos bancos
centrais.
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