domingo, 4 de setembro de 2016

NEGÓCIOS?

Entre cada anuncio de dados do INE (crescimento económico, défice, PIB, desemprego, investimento, etc.) sucedem-se as inevitáveis interpretações de quem apoia ou contesta o actual governo. Para os primeiros as coisas não estão a correr mal, enquanto para os segundos os «Dados do INE são um “murro no estômago da geringonça”».

A verdade é que estes são contraditórios; embora não haja investimento nem crescimento económico o desemprego estará a descer, enquanto o défice parece estabilizado. Tanto basta para que o inefável Marques Mendes (o comentador de serviço que incessantemente procura ocupar o espaço deixado vazio por Marcelo Rebelo de Sousa) antecipe o KO técnico para António Costa, escondendo que o estado anémico da economia portuguesa não começou com este governo, antes remonta ao do seu correlegionário Passos Coelho e, pior, coincide com um período de igual letargia na economia europeia quando no tempo do anterior governo a Europa registava índices de crescimento superiores ao nacional.

Quer isto dizer que está tudo bem?

Claro que não e o primeiro sinal disso mesmo é o fraco investimento e muito duvidosa descida da taxa de desemprego. Numa economia, como a portuguesa, onde o tradicional motor do investimento sempre foi o investimento público, a redução imposta por Bruxelas não poderia ter outro efeito que não um reduzido crescimento que a tentativa de incentivo ao consumo interno, ensaiada através da reposição dalguns dos cortes ditados pela estratégia neoliberal de combate ao défice, não está a conseguir compensar.


Por isso a quase histeria que por vezes se detecta nos discursos de Passos Coelho, quando anuncia que a «Solução governativa está condenada ao "fiasco e ao fracasso"», ou quando «Assunção Cristas ataca “festança da esquerda”» em nada contribui para resolver o tal problema estrutural da falta de investimento; é que, como se comprovou durante o consulado Passos Coelho/Paulo Portas, a opção monetarista e neoliberal de privilegiar a estratégia de concentração da riqueza no pressuposto que esta originará mais investimento e criação de mais empregos traduz-se, isso sim, no aumento do investimento especulativo. Esta situação não melhorará enquanto se permitir que as grandes fortunas prefiram a opção especulativa por poder proporcionar maiores rentabilidades e em prazos menores, em detrimento do investimento na esfera produtiva, de retorno mais incerto e mais demorado, e ainda mais quando aquela estratégia for realizada sob a forma de dívida aos estados colocados na estrita dependência do endividamento por via da redução das suas receitas fiscais, como se comprova quando a «Comissão Europeia exige à Apple 13 mil milhões em impostos atrasados».

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