Entre cada
anuncio de dados do INE (crescimento económico, défice, PIB, desemprego, investimento, etc.) sucedem-se as inevitáveis interpretações de quem apoia ou
contesta o actual governo. Para os primeiros as coisas não estão a correr mal,
enquanto para os segundos os «Dados
do INE são um “murro no estômago da geringonça”».
A verdade é
que estes são contraditórios; embora não haja investimento nem crescimento
económico o desemprego estará a descer, enquanto o défice parece estabilizado.
Tanto basta para que o inefável Marques Mendes (o comentador de serviço que
incessantemente procura ocupar o espaço deixado vazio por Marcelo Rebelo de
Sousa) antecipe o KO técnico para António Costa, escondendo que o estado
anémico da economia portuguesa não começou com este governo, antes remonta ao
do seu correlegionário Passos Coelho e, pior, coincide com um período de igual
letargia na economia europeia quando no tempo do anterior governo a Europa
registava índices de crescimento superiores ao nacional.
Quer isto
dizer que está tudo bem?
Claro que não
e o primeiro sinal disso mesmo é o fraco investimento e muito duvidosa descida
da taxa de desemprego. Numa economia, como a portuguesa, onde o tradicional
motor do investimento sempre foi o investimento público, a redução imposta por
Bruxelas não poderia ter outro efeito que não um reduzido crescimento que a
tentativa de incentivo ao consumo interno, ensaiada através da reposição
dalguns dos cortes ditados pela estratégia neoliberal de combate ao défice, não
está a conseguir compensar.
Por isso a
quase histeria que por vezes se detecta nos discursos de Passos Coelho, quando
anuncia que a «Solução
governativa está condenada ao "fiasco e ao fracasso"», ou quando «Assunção
Cristas ataca “festança da esquerda”» em nada contribui para resolver o tal
problema estrutural da falta de investimento; é que, como se comprovou durante
o consulado Passos Coelho/Paulo Portas, a opção monetarista e neoliberal de
privilegiar a estratégia de concentração da riqueza no pressuposto que esta
originará mais investimento e criação de mais empregos traduz-se, isso sim, no
aumento do investimento especulativo. Esta situação não melhorará enquanto se
permitir que as grandes fortunas prefiram a opção especulativa por poder proporcionar
maiores rentabilidades e em prazos menores, em detrimento do investimento na
esfera produtiva, de retorno mais incerto e mais demorado, e ainda mais quando
aquela estratégia for realizada sob a forma de dívida aos estados colocados na
estrita dependência do endividamento por via da redução das suas receitas fiscais,
como se comprova quando a «Comissão
Europeia exige à Apple 13 mil milhões em impostos atrasados».
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