Domingo foi
dia de votar, no Parlamento brasileiro, o pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff e depois de outros casos
brasileiros, como o de Fernando Collor de Melo (que renunciou antes da
votação), ou americanos, como o de Richard Nixon que não resistiu ao escândalo Watergate, seria de esperar que este decorresse dentro da possível
normalidade... e que a notícia de que o «Parlamento
brasileiro aprova impeachment da
Presidente Dilma» representasse afinal o funcionamento da democracia.
Seria, se o
caso não estivesse rodeado de mais que uma natural polémica em torno da
actuação política de Dilma Rousseff e se aqueles que defendem (justa ou
injustamente) o pedido de impeachment
representassem valores éticos e políticos superiores aos da visada. Sucede
porém que o presidente do Parlamento, Eduardo Cunha, está ele próprio envolvido
no escândalo “Lava-Jato” tal como o vice-presidente, Michel Temer, que se
prepara para suceder a Dilma embora também já tenha sido alvo de pedido de impeachment semelhante.
Quando o
Brasil se debate com uma crise económica declarada, eis que a sua classe
política embala sem hesitação em direcção a uma crise política de dimensão
ainda difícil de equacionar. Claro que a vaga de escândalos de corrupção
envolvendo grandes empresas e membros dos principais partidos políticos em nada
contribui para a credibilidade do processo de impeachment contra Dilma Rousseff, a ponto de haver quem a descreva
como uma manobra de encobrimento dos processos judiciais em curso e se aquele pedido vingar no Senado
persistirá sempre a dúvida sobre a verdadeira responsabilidade da visada.
O que
seguramente não vai deixar de persistir é a imagem duma classe política desgastada,
minada pela corrupção e pelo recurso a manobras de bastidores que já levaram a
própria Dilma Rousseff a dizer que «"Isso
não é impeachment, mas eleição indireta"», agravada ainda pela triste
reunião parlamentar, difundida em directo pelas televisões, que justificou
perfeitamente o epíteto de «Um
vergonhoso espectáculo de hipocrisia».
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