As sucessivas
notícias resultantes da divulgação dos “Panama
Papers” não só continuam na ordem do dia como se estão a revelar bem mais
interessantes que o mero voyeurismo
social deixaria antever. E isso além de positivo deveria servir de ponto de
arranque para uma mobilização geral contra a existência dos offshores, sugerida pela notícia que a «UE
quer total transparência das grandes empresas quanto aos lucros e aos impostos».
Claro que não
têm faltado referências ao assunto e até se diz que «Grandes
empresas dos EUA têm 1,4 mil milhões de dólares em paraísos fiscais» ou que
alguns famosos (o caso mais recente veio do país
vizinho onde «Ministro
espanhol pede demissão depois de ser associado a offshore»), mas de forma
geral o que ressalta do corpo das notícias e dos comentários que vão sendo
publicados é uma clara condenação do aproveitamento de legislações desadequadas
ou manifestamente criadas para facilitar e justificar a existência desta
aberração económica e social que já levou à afirmação que até «"Os
Estados Unidos são um país onde é possível esconder dinheiro"».
Além de
poderosas máquinas de lavar dinheiro proveniente de origens duvidosas, os
paraísos fiscais são ainda moral e eticamente injustificáveis, tantos são os
danos que têm provocado na erosão do tecido social e tanto mais graves quanto aqueles
só podem resultar duma estratégia concertada precisamente para o desgaste e
desmantelamento das estruturas públicas regularmente apontadas como as
responsáveis pelas elevadas cargas fiscais aplicadas aos cidadãos. Veja-se o
caso português, que num relatório da OCDE (o
'Taxing Wages 2016', relatório que analisa a evolução da
carga fiscal nos 34 países que integram a organização) hoje publicado, onde se
confirma que «Portugal
foi o país em que a carga fiscal sobre os salários mais subiu» e que
classifica «Portugal
entre 11 países da OCDE com maior carga fiscal sobre o trabalho».
Embora criados
sob argumento de aumentarem a competitividade das economias, os offshores, na sua vertente mais ou menos
legal, têm servido fundamentalmente para assegurar meios de evasão fiscal às
grandes empresas e às grandes fortunas, e afirmar-se agora que «Não
é impossível pôr os ricos a pagar impostos... mesmo no Panamá», poderá não
passar de mais uma manobra para ludibriar a opinião pública e evitar que esta
exija a extinção, pura e simples, dos paraísos fiscais e a penalização efectiva
de quem deles retirou ganhos indevidos.
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