Na primeira
parte deste “post” referi o facto da
denúncia das limitações e malefícios dum modelo económico avesso ao
reconhecimento do factor trabalho datar de há pelo menos vinte anos, mas já
duas décadas antes se debatiam os efeitos da aplicação do Consenso de
Washington (conjunto de princípios de acentuado pendor monetarista que o FMI
transformou na sua lista de medidas a aplicar aos países sujeitos à sua
intervenção) aos países do Terceiro Mundo.
Quando Cheryl
Payer sintetizou no livro «A Armadilha da Dívida Externa» os resultados da sua
investigação, já vários países africanos e sul-americanos tinham sentido os
efeitos práticos dos mesmos malefícios a que hoje assistimos. Como qualquer
outro processo impositivo, a aplicação dos pressupostos neoliberais a economias
menos desenvolvidas não foi inócuo nem fruto dum qualquer acidente e percurso,
antes consequência dum plano gizado para a implementação da chamada
globalização, no qual as economias empobrecidas ficariam para sempre
dependentes das mais ricas.
Este mecanismo
seria replicado no sudoeste asiático e na Rússia, no período que se seguiu ao
desmembramento da União Soviética, com efeitos distintos consoante a maior ou
menor vontade/capacidade das lideranças locais se lhe oporem.
A denúncia e a
contestação das políticas de natureza macroeconómica que estão a afundar o
pouco que resta duma Europa com pensamento autónomo, inclui a necessidade de
dispersar atenções por vertentes como a financeira e a monetária mas igualmente
pela social. O que distingue a verdadeira análise macroeconómica da visão quase
microeconómica que insistem em nos impor (a dos equilíbrios orçamentais que
persistem em apresentar sob a mesma perspectiva que a dos orçamentos
familiares) não é apenas a sua abrangência mas também a sua capacidade para
observar e preservar o lado social da economia.
É por isso que
a par com a importância de apresentar modelos financeiros alternativos, como
seja o caso da radical alteração do desenho da moeda única e da transformação
do papel do BCE em financiador principal e directo dos défices públicos (pelo
menos na proporção prevista no Tratado Orçamental) em lugar de financiador do
sistema financeiro, é igualmente indispensável denunciar a falência do actual modelo
de organização do trabalho e em especial o paradigma que estabelece a utilidade
desse mesmo factor produtivo.
Ao contrário
do capital (o outro factor produtivo) o produto do trabalho tem que ser
avaliado além do simples aumento de valor incorporado nos produtos fabricados.
Uma sociedade na era da informação e da robotização não pode continuar a
avaliar o produto do trabalho exclusivamente pelo seu preço no mercado; muitas
e indispensáveis tarefas são realizadas sem que estas sejam incorporadas nos
cálculos de valor como o do PIB.
O princípio da
distribuição dum dividendo-geral, a que me referi no “post” anterior, é cada vez mais urgente e indispensável numa sociedade
como a actual, onde ao desequilíbrio de pirâmides etárias invertidas se
adiciona a realidade da inexistência de emprego para quem o procure; assim a
actual sociedade tem que mudar de paradigma e passar a valorizar tarefas como a
da formação das gerações mais jovens ou o acompanhamento das gerações mais
velhas e a revelar o discernimento para lhes atribuir uma remuneração que
valorize socialmente aquelas e outras tarefas mais ligadas a funções criativas.
A par com
esta, outras estratégias no combate ao desemprego serão necessárias para
reduzir os seus efeitos devastadores.
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