quarta-feira, 12 de agosto de 2015

PARA A DISCUSSÃO DE UM NOVO PARADIGMA – PARTE II

Na primeira parte deste “postreferi o facto da denúncia das limitações e malefícios dum modelo económico avesso ao reconhecimento do factor trabalho datar de há pelo menos vinte anos, mas já duas décadas antes se debatiam os efeitos da aplicação do Consenso de Washington (conjunto de princípios de acentuado pendor monetarista que o FMI transformou na sua lista de medidas a aplicar aos países sujeitos à sua intervenção) aos países do Terceiro Mundo.

Quando Cheryl Payer sintetizou no livro «A Armadilha da Dívida Externa» os resultados da sua investigação, já vários países africanos e sul-americanos tinham sentido os efeitos práticos dos mesmos malefícios a que hoje assistimos. Como qualquer outro processo impositivo, a aplicação dos pressupostos neoliberais a economias menos desenvolvidas não foi inócuo nem fruto dum qualquer acidente e percurso, antes consequência dum plano gizado para a implementação da chamada globalização, no qual as economias empobrecidas ficariam para sempre dependentes das mais ricas.

Este mecanismo seria replicado no sudoeste asiático e na Rússia, no período que se seguiu ao desmembramento da União Soviética, com efeitos distintos consoante a maior ou menor vontade/capacidade das lideranças locais se lhe oporem.

A denúncia e a contestação das políticas de natureza macroeconómica que estão a afundar o pouco que resta duma Europa com pensamento autónomo, inclui a necessidade de dispersar atenções por vertentes como a financeira e a monetária mas igualmente pela social. O que distingue a verdadeira análise macroeconómica da visão quase microeconómica que insistem em nos impor (a dos equilíbrios orçamentais que persistem em apresentar sob a mesma perspectiva que a dos orçamentos familiares) não é apenas a sua abrangência mas também a sua capacidade para observar e preservar o lado social da economia.

É por isso que a par com a importância de apresentar modelos financeiros alternativos, como seja o caso da radical alteração do desenho da moeda única e da transformação do papel do BCE em financiador principal e directo dos défices públicos (pelo menos na proporção prevista no Tratado Orçamental) em lugar de financiador do sistema financeiro, é igualmente indispensável denunciar a falência do actual modelo de organização do trabalho e em especial o paradigma que estabelece a utilidade desse mesmo factor produtivo.

Ao contrário do capital (o outro factor produtivo) o produto do trabalho tem que ser avaliado além do simples aumento de valor incorporado nos produtos fabricados. Uma sociedade na era da informação e da robotização não pode continuar a avaliar o produto do trabalho exclusivamente pelo seu preço no mercado; muitas e indispensáveis tarefas são realizadas sem que estas sejam incorporadas nos cálculos de valor como o do PIB.

O princípio da distribuição dum dividendo-geral, a que me referi no post” anterior, é cada vez mais urgente e indispensável numa sociedade como a actual, onde ao desequilíbrio de pirâmides etárias invertidas se adiciona a realidade da inexistência de emprego para quem o procure; assim a actual sociedade tem que mudar de paradigma e passar a valorizar tarefas como a da formação das gerações mais jovens ou o acompanhamento das gerações mais velhas e a revelar o discernimento para lhes atribuir uma remuneração que valorize socialmente aquelas e outras tarefas mais ligadas a funções criativas.


A par com esta, outras estratégias no combate ao desemprego serão necessárias para reduzir os seus efeitos devastadores.

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