O sucesso da
iniciativa “QUE SE LIXE A TROIKA! QUEREMOS AS NOSSAS VIDAS!” só poderá ter
espantado os mais distraídos ou os mais incautos e reduzi-lo à contestação à
redução da TSU (Taxa Social Única), suavizá-lo, como ensaia Vítor Gaspar quando
afirma que «Manifestação
“não foi de ruptura foi de força de carácter”», ou tentar esvaziá-lo, como o
fez Pires de Lima ao afirmar que «Não
é verdade que a maioria dos portugueses esteja contra a austeridade», são
tentativas que além de canhestras revelam a verdadeira dimensão de autores e
apoiantes das políticas finalmente contestadas na rua.
É óbvio que a
principal preocupação da elite dirigente se centra agora na formulação da
melhor via para ultrapassar as dificuldades que um governo inepto criou e que
foram alimentadas e ampliadas por um Presidente da República temeroso e
intelectualmente mumificado; a prova está na demorada convocação do Conselho de
Estado e no tempo que aos conselheiros tem sido proporcionado para trocarem
“mensagens” e “recados” através da comunicação social.
Nada de
especial se atentarmos no que PSD, CDS e PS têm feito. À imagem e semelhança do
anedótico governo de Santana Lopes, também agora Paulo Portas procura
afanosamente escapar à derrocada sem mácula e com condições para enfrentar a remota
opção de eleições antecipadas, enquanto os barões do PSD seguram Passos Coelho
fingindo que o empurram (ou vice versa) e o PS proclama que só voltará ao
governo com novas eleições.
No seu
conjunto todos parecem interessados em desvalorizar a reacção popular, pois a
forma frontal e categórica como se gritou nas ruas do país contra as políticas
de austeridade (elo comum aos três principais partidos) limita profundamente a
sua capacidade de manobra. O resultado da reunião magna (que segundo Daniel
Oliveira deverá passar por um de «Os cinco cenários»
ou por apenas três, como sugere Viriato Soromenho-Marques em «Cenários
e sombras»), onde a grande disputa se deverá centrar entre a remodelação ou
a formação dum novo governo nunca terá em conta o desejo de termos a vida de
volta; o que dela resultar – seja uma simples e rapidamente ineficaz
remodelação governamental ou um novo governo liderado por um tecnocrata
(atenção a António Borges, ex-Goldman Sachs como o italiano Monti…) – será um
claro sinal da habitual manipulação da vontade popular ignorando a mais
importante conclusão das manifestações: o descrédito duma solução apresentada
como inevitável e dos políticos incapazes de admitirem a existência de
alternativas.
Como se não
bastasse a disparidade de indicadores proporcionados pelas reuniões do conselho
nacional do CDS e da comissão política do PSD (reunida para analisar as
conclusões do conclave centrista), com a primeira a dar inquietantes sinais de
incómodo na coligação e a segunda a apelar à reconciliação dos compartes, ou,
no dizer de Vasco Graça Moura, a «Um
entendimento elementar», e as já referidas opiniões públicas dalguns
conselheiros (das quais destaco aquela em que Mário «Soares sugere
nomeação de novo governo sem eleições»), há ainda que adicionar as
habituais tergiversações de Cavaco Silva para ficarmos com a convicção que tudo
será tentado para que nada mude…
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