Conhecidas as
últimas medidas do governo de Passos Coelho e sabido que no Parlamento Vítor «Gaspar
reconhece que défice real ultrapassa os 6%», de pronto o mesmo «Gaspar
confirma mais medidas extra para cumprir o défice» que afinal não deverá
ser de 4,5% como prometido aos credores (FMI, BCE e UE) nem de 5%, como estes
benemeritamente “autorizaram”.
Passado o
choque inicial instala-se a dúvida… e agora, o que se seguirá?
Deixando de
lado as tradicionais hesitações de personagens como o que raramente tem dúvidas
e nunca se engana[1],
daqueles cuja única dúvida consiste na escolha da melhor via para fugir ao
fisco, dos que se preocupam com pouco mais que a sua popularidade (e a natural
reeleição) e daqueles cujo grande objectivo na vida terá sido a dum bem
remunerado emprego como cobrador de dívidas, responderei aos que se interrogam
sobre a forma como irão sobreviver depois de mais alguns considerandos sobre a
dura realidade que vivemos.
Provado que
ficou que a política de austeridade, receitada pelo FMI e demais representantes
de credores, não consegue atingir o propalado objectivo da redução dos défices e
quando o próprio «CES
alerta para o efeito negativo da austeridade na economia e na dívida pública»,
não podem restar quaisquer dúvidas que existe uma inconfessável agenda
político-económica que norteia as opções dos responsáveis políticos. A
famigerada austeridade expansionista defendida por Passos Coelho não passa
afinal de mais uma estratégia que visa a aterrorização da população com o
objectivo de alcançar uma alteração profunda ao modelo de distribuição da
riqueza em claro benefício do factor capital, tanto mais que feitas algumas
contas sobre as estimativas do encaixe com as novas medidas de austeridade
facilmente se conclui «Gaspar
pediu seis vezes mais do que precisa cortar para a nova meta do défice» ou
seja, porque é que o governo que prometeu falar verdade (e fez disso “leitmotiv” da última campanha eleitoral)
mente com a mesma regularidade e a mesma gravidade que os anteriores.
Não bastando
já as reduções salariais resultantes da estagnação dos salários, as pressões
criadas pela redução salarial imposta aos trabalhadores da função pública e do
sector empresarial do estado, o agravamento superior a 60% dos descontos para a
Segurança Social em benefício da redução da componente que era suportada pelas
empresas (Taxa Social Única) só pode cumprir o mero objectivo de aumentar os
resultados das empresas, com a agravante dos maiores beneficiados serem as
grandes empresas e não as famosas PME que pomposamente figuram nos discursos de
todo o político que se preze.
Se algum
mérito se pode reconhecer nestas políticas é o de aproximar cada vez mais os
interesses de camadas da população cujas aparentes divergências têm até agora
sido exploradas até à exaustão pelos tradicionais candidatos a governantes.
Perante um cenário de ainda maior retracção na economia interna, que há dias
levou analistas do BNP Paribas a antever que o «Défice
deste ano ficará nos 6% e recessão em 2013 será ainda mas severa», até os
pequenos empresários começam a fazer coro com os assalariados e os pensionistas
e assim sindicatos e confederações patronais já se pronunciaram em desacordo
com esta nova vaga de medidas de austeridade.
O coro de
contestação, que une assalariados, pensionistas e pequenos empresários, extravasou
já para a própria área dos partidos da coligação PSD/CDS, a ponto de já ter
sido noticiado que durante uma reunião dos deputados da maioria com o ministro
das finanças, o «Porta-voz do CDS
ataca Gaspar»; até notáveis do PSD e do CDS, como o moderado Marcelo Rebelo
de Sousa que classificou o primeiro-ministro de “impreparado” (e terá até
estado à beira de lhe chamar incompetente), Manuela Ferreira Leite (porta-voz
ressabiado da facção cavaquista) que afirmou que «“Ninguém
consegue engolir a segunda dose de xarope”» ou o ex-líder do CDS, Ribeiro e
Castro, que numa entrevista
à RDP afirmou que ““É preciso
saltar a pés juntos” sobre as rendas excessivas e sobre os “interesses
instalados””, já expressaram o seu desacordo às
propostas, deixando pairar a dúvida sobre futuros desenvolvimentos e explicando
porque é que na sua mais recente reunião «Vítor
Gaspar disse ao Eurogrupo que novas medidas intensificaram debate político».
Reduzidas as
reacções dos “notáveis” à sua justa dimensão (um Marcelo Rebelo de Sousa que
visa manter a sua aura de “fazedor de reis”, uma Manuela Ferreira Leite que
terá aceite o papel de porta-voz agitador da facção cavaquista e um Ribeiro e
Castro que lá pôs o dedo na ferida) e mantendo vivo o princípio que o
verdadeiro poder apenas pode advir do povo, respondo de forma simples e directa
aos que se interrogam sobre a forma como irão sobreviver às medidas anunciadas:
convertam a vossa agonia num claro e audível grito de revolta e deixem bem
claro que ao contrário do que afirmam a maioria dos partidos políticos existem
alternativas às políticas do FMI.
[1] Mas que, pelo sim pelo não, na qualidade de «Presidente
da República convoca o Conselho de Estado e Vítor Gaspar».
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