Depois
das notícias que circularam nas últimas semanas em torno da situação económica
nacional, conhecido que é o desvio registado nas receitas estimadas e sabido
que o «Governo
assume que défice de 4,5% é inalcançável sem mais medidas», só poderá
classificar de espantoso saber-se que a «‘Troika’
culpa Governo Português por falhanço do programa» quem já esqueceu que foi
o próprio primeiro-ministro que anunciou estar a aplicar medidas que iam além
das exigências dos credores?
Este problema
não se reduz ao acordo assinado entre FMI, BCE e FEEF e os partidos da área do
poder (PS, PSD e CDS), antes se estende a todo o tipo de pactos mefistofélicos,
ou será que o “ingénuo” Passos Coelho alguma vez acreditou que ao assumir o
papel de “bom aluno” – não aquele que obtém bons resultados em consequência do
seu trabalho, antes aquele que bajula o avaliador para disso extrair vantagens
– isso o colocaria ao abrigo da derrocada que alguns lhe vaticinaram?
Cada vez mais
à semelhança do antecessor que tanto vilipendiou, Passos Coelho e o seu governo
desdobram-se já em manobras mais próprias de contorcionistas de circo que de
políticos hábeis, conscientes das necessidades públicas e estribados em bem
alicerçados princípios ideológicos. No desgastante afã de agradarem aos
credores multiplicam declarações cada vez mais vazias enquanto se agarram
desesperadamente à repetição do mantra salvador do primado dos “mercados” e da
“livre iniciativa”.
Quem
pouco ou nada esperou deste governo (há semelhança dos anteriores) não se
sentirá tão defraudado, ainda que isso represente pouco consolo quando se
continua a assistir à repetição dos erros e da estratégia que nos conduziram ao
ponto em que estamos.
A
inépcia dos políticos que conduzem os destinos nacionais e europeus (para nos
limitarmos a um espaço mais próximo) além de se revelar cada vez mais evidente
continua a empurrar-nos para um beco sem saída e não dá sinais da mínima
inversão; isso mesmo é confirmado pela mais recente decisão do BCE, prontamente
anunciada como a revolução salvadora, de avançar com a compra de dívida
soberana, se necessário até em substituição da própria banca, dos países que se
submetam a programas de ajustamento macroeconómico (vulgo, medidas de
austeridade). Pena foi que nem Mario Draghi nem nenhum dos jornalistas que
entusiasticamente noticiaram a decisão tenham explicado em que é que esta
“revolução” difere da situação actual (o BCE há muito que vem comprando dívida
pública dos estados mais fragilizados no mercado secundário) nem em que medida
isso reduzirá os encargos excessivos com os juros exigidos pelos “mercados” ou
aliviará as depauperadas economias dos PIIGS, pois como bem o sentimos na carne
(a pele já desapareceu há muito...) os eufemísticos programas de ajustamento
são desenhados e estão apontados ao único objectivo de assegurar o aumento dos
rendimentos do factor capital em detrimento do factor trabalho e, a par com a
escassez de crédito fomentada por uma banca descapitalizada e sobrealavancada
em activos financeiros de reduzido ou nulo valor real, factor determinante nos
elevados níveis de desemprego que a Europa regista.
O
fracasso destas políticas que se dizem orientadas para o bem-estar comum é cada
vez mais evidente e, para quem a explicação de natureza económica possa parecer
complicada, sempre recordo que até na literatura se encontra registo do
desfecho anunciado: quem vende a alma ao Diabo acaba sempre por se ver
queimado...
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