sábado, 8 de setembro de 2012

O PACTO


Depois das notícias que circularam nas últimas semanas em torno da situação económica nacional, conhecido que é o desvio registado nas receitas estimadas e sabido que o «Governo assume que défice de 4,5% é inalcançável sem mais medidas», só poderá classificar de espantoso saber-se que a «‘Troika’ culpa Governo Português por falhanço do programa» quem já esqueceu que foi o próprio primeiro-ministro que anunciou estar a aplicar medidas que iam além das exigências dos credores?


Este problema não se reduz ao acordo assinado entre FMI, BCE e FEEF e os partidos da área do poder (PS, PSD e CDS), antes se estende a todo o tipo de pactos mefistofélicos, ou será que o “ingénuo” Passos Coelho alguma vez acreditou que ao assumir o papel de “bom aluno” – não aquele que obtém bons resultados em consequência do seu trabalho, antes aquele que bajula o avaliador para disso extrair vantagens – isso o colocaria ao abrigo da derrocada que alguns lhe vaticinaram?

Cada vez mais à semelhança do antecessor que tanto vilipendiou, Passos Coelho e o seu governo desdobram-se já em manobras mais próprias de contorcionistas de circo que de políticos hábeis, conscientes das necessidades públicas e estribados em bem alicerçados princípios ideológicos. No desgastante afã de agradarem aos credores multiplicam declarações cada vez mais vazias enquanto se agarram desesperadamente à repetição do mantra salvador do primado dos “mercados” e da “livre iniciativa”.

Quem pouco ou nada esperou deste governo (há semelhança dos anteriores) não se sentirá tão defraudado, ainda que isso represente pouco consolo quando se continua a assistir à repetição dos erros e da estratégia que nos conduziram ao ponto em que estamos.

A inépcia dos políticos que conduzem os destinos nacionais e europeus (para nos limitarmos a um espaço mais próximo) além de se revelar cada vez mais evidente continua a empurrar-nos para um beco sem saída e não dá sinais da mínima inversão; isso mesmo é confirmado pela mais recente decisão do BCE, prontamente anunciada como a revolução salvadora, de avançar com a compra de dívida soberana, se necessário até em substituição da própria banca, dos países que se submetam a programas de ajustamento macroeconómico (vulgo, medidas de austeridade). Pena foi que nem Mario Draghi nem nenhum dos jornalistas que entusiasticamente noticiaram a decisão tenham explicado em que é que esta “revolução” difere da situação actual (o BCE há muito que vem comprando dívida pública dos estados mais fragilizados no mercado secundário) nem em que medida isso reduzirá os encargos excessivos com os juros exigidos pelos “mercados” ou aliviará as depauperadas economias dos PIIGS, pois como bem o sentimos na carne (a pele já desapareceu há muito...) os eufemísticos programas de ajustamento são desenhados e estão apontados ao único objectivo de assegurar o aumento dos rendimentos do factor capital em detrimento do factor trabalho e, a par com a escassez de crédito fomentada por uma banca descapitalizada e sobrealavancada em activos financeiros de reduzido ou nulo valor real, factor determinante nos elevados níveis de desemprego que a Europa regista.

O fracasso destas políticas que se dizem orientadas para o bem-estar comum é cada vez mais evidente e, para quem a explicação de natureza económica possa parecer complicada, sempre recordo que até na literatura se encontra registo do desfecho anunciado: quem vende a alma ao Diabo acaba sempre por se ver queimado...

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