sábado, 25 de agosto de 2012

DEFENDER OU NÃO O EURO


Confirmando o que há cerca de duas semanas escrevi no “post” «FIM DE VERÃO QUENTE» – que se conjugava nova tempestade sobre a Europa para Setembro ou Outubro –, eis que as primeiras reacções às notícias de que Antonis Samaras, o primeiro-ministro da «Grécia quer mais tempo para reformas estruturais» continuam sem prefigurar a concertação duma estratégia europeia na abordagem da proposta e assim aumentando as probabilidades de novos ataques especulativos.

Como se não bastasse a informação que diariamente vai dando conta da degradação da situação económica e financeira na UE, ou a publicação de bombásticos relatórios elaborados pelos reputados técnicos dos bancos “demasiado grandes para falirem” – como um do Citigroup assegurando que a «Probabilidade da Grécia sair da Zona Euro em Setembro está a aumentar» – que mais não fazem que constatar a realidade, eis que enquanto no início dum périplo pelas capitais dos principais credores o «PM grego pede mais tempo para adoptar reformas», a persistente intransigência do ministro alemão das finanças insistindo na ideia que a «Alemanha não vai dar mais tempo à Grécia» poderá explicar porque é que, quiçá em desespero de causa, o mesmo «Samaras acusa políticos europeus de criarem sentimento de insegurança nos investidores».


Enquanto as principais instâncias políticas europeias persistem na produção de declarações politicamente correctas mas completamente inócuas e desfasadas da realidade europeia, como aquela onde se pode ler que, Jean-Claude Juncker, o primeiro-ministro luxemburguês e «Presidente do Eurogrupo diz que extensão do plano grego depende da troika», enquanto os governantes das principais economias da Zona Euro «Hollande e Merkel pressionam Grécia a cumprir reformas» ou produzem afirmações como a de que «“Cabe aos gregos fazerem esforços responsáveis para se manterem na Zona Euro”», tudo indica que as elites políticas continuam sem revelar capacidade para enfrentar o problema e deixam deteriorar a situação política e económica; com o dia-a-dia dos cidadãos europeus a degradar-se a olhos vistos e sem vislumbre de melhoria, faz cada vez mais sentido a afirmação produzida pelo ex-economista-chefe do FMI, o americano Kenneth Rogoff, de que a «Europa tem de decidir se quer romper com o euro» e em caso negativo, acrescento eu, assumir a opção cada vez mais premente de alterar o modelo de financiamento dos Estados, permitindo que este se faça directamente através do BCE.

A desorientação atinge proporções preocupantes, pois não são apenas os responsáveis pela condução política que parecem catatónicos; eleitos ou não (como é o caso dos membros da nomenclatura europeia), com maiores ou menores limitações e capacidades oratórias diversas, alternam entre uma quase apatia (como parece ser actualmente os casos de Durão Barroso e Van Rompuy) e uma inesgotável loquacidade (como é o caso do já citado Juncker que depois de ter afirmado no início do mês que «Saída da Grécia do euro “seria gerível”», afirma agora um categórico «“Calem-se!”, … aos que pedem a saída da Grécia do euro»). O clima de desorientação, agravado pelas recentes declarações do mesmo Juncker e de Merkel de que «Decisões sobre a Grécia só em Outubro», alimenta a tendência especulativa e permite até que um organismo como uma agência de notação de risco, a Standard & Poor’s, (quase seguramente conhecedora por antecipação que «Espanha estará a negociar resgate total e não só à banca») produza a afirmação de que «Se Espanha pedir resgate completo, rating não baixa», sem que daqueles mesmos poderes públicos se erga qualquer reparo ou crítica pelo facto desta “opinião” extravasar as funções da agência e constituir uma descarada forma de influência sobre os decisores políticos, mesmo sobre os que comprovadamente se colocam ao serviço dos interesses financeiros internacionais.

Sem comentários: