Pouco depois
de sermos informados que «Super-ricos
“escondem” mais de 17 biliões de euros em paraísos fiscais», ficámos a
saber, através dum relatório
do EUROSTAT, que «Portugal
foi o país com maior aumento do endividamento no primeiro trimestre»,
enquanto as notícias locais iam dando conta que as «Contas
públicas cumprem limites da troika, mas receitas fiscais continuam a derrapar»,
ou mais precisamente, que os «Impostos
estão 7% abaixo do esperado».
Observadas de
forma isolada ou em conjunto as notícias não apresentam nada de novo, salvo o
caso da que faz referência ao relatório recentemente apresentado pela TAX JUSTICE
NETWORK – organização que defende a transparência fiscal internacional –
que comprova a existência e atribui uma dimensão ao que designa por “enorme
buraco negro” na economia mundial.
A
dimensão do fenómeno da fuga fiscal praticada pelos rendimentos mais elevados
através dos mecanismos legalmente estabelecidos nos “offshores”, estimado por James S.
Henry, um antigo economista-chefe da famosa
empresa norte-americana de consultadoria financeira McKinsey & CO
(curiosamente a mesma que foi escolhida para assessorar a privatização da TAP)
entre 17 e 26 biliões de euros, está agora melhor documentada que nunca.
Para a
concretização da tarefa foi utilizada informação proveniente do FMI, Banco
Mundial, BIS (Banco Internacional de Compensação), ONU, bancos centrais e
Ministérios das Finanças, ou seja, informação do domínio público que as
entidades públicas (Governos e Organismos) se escusam de utilizar a pretexto da
famosa necessidade de “não afugentar os investidores”. O trabalho agora
apresentado e que no dizer do seu coordenador «…centra a atenção num enorme “buraco negro” na economia mundial que
nunca antes fora medido – a riqueza privada sedeada nos “offshores” e as
enormes quantias de rendimentos não taxados que produz. Isto numa época em que
os governos de todo o Mundo estão privados de recursos e são cada vez mais
evidentes os custos de desigualdade económica.
Recorrendo
a vários métodos independentes de estimativa e ao mais vasto conjunto de dados
alguma vez reunidos, conseguidos avaliar a dimensão e o crescimento deste
buraco negro, cujos resultados, mesmo numa perspectiva conservadora, são
impressionantes.
Primeiro, esta parte escondida dos “offshores”
é suficientemente vasta para alterar significativamente a avaliação
convencional das desigualdades.
O
efeito é surpreendente em virtude da riqueza financeira assim escondida pertencer
a uma pequena elite. Na generalidade dos países a desigualdade financeira
global não só é maior que o previsto como tem crescido muito mais depressa.
Segundo, a taxa de receita perdida
estimada pelo estudo é enorme. É suficiente para originar diferenças
significativas nas finanças de muitos países, especialmente nos países em
desenvolvimento que se debatem para substituir as ajudas perdidas e ainda
suportam os custos das alterações climáticas. Na realidade, tomando em linha de
conta os activos desviados para os “offshores” e os rendimentos por eles
gerados, muitos dos chamados “países endividados” são de facto bem mais ricos.
Mas o seu problema é que a riqueza está fora das fronteiras e nas mãos das suas
elites e dos seus banqueiros privados. De facto os países em desenvolvimento
têm sido na última década um importante CREDOR dos países desenvolvidos. Quer
isto dizer que o verdadeiro problema não é a “dívida” mas sim a equidade
fiscal.
Terceiro, acontece que os “offshores” –
que se especializaram na fuga ao fisco – foram criados e são geridos, não por
entidades fantasmas locais, mas pelos maiores bancos privados mundiais, pelas
grandes sociedades de advogados, de consultores e de contabilistas sediadas nas
principais capitais mundiais, como Londres, Nova York e Genebra. A análise
atenta desses bancos revela que os seus líderes são os mesmos que aparecem como
beneficiários dos resgates públicos e noutras das recentes manobras financeiras.
Quarto, face a tudo isto, é escandaloso
que instituições oficiais, como o BIS, o FMI, o Banco Mundial, a OCDE e o G20,
tal como os bancos centrais, tenham dedicado tão pouca atenção e investigação a
esta actividade. Este escândalo é agravado pelo facto de disporem da maioria
dos dados necessários para avaliar cuidadosamente a actividade. Por razões que
só eles conhecerão, toleraram o crescimento sub-reptício dos “offshores”
durante demasiado tempo. É chegada a altura de cumprirem as suas promessas e
trabalharem, conjuntamente connosco, em propostas de políticas concretas para
recuperarem o controlo.
Visto
sob outro angulo, este estudo constitui uma boa notícia. O Mundo acaba de
localizar uma enorme massa de riqueza financeira que pode ser chamada a
contribuir para a solução dos problemas globais mais prementes. Estamos perante
uma oportunidade para pensarmos não apenas no modo de prevenirmos os abusos mas
também no melhor método para utilizarmos os rendimentos não taxados por eles
gerados…», merece toda a atenção e melhor
destino que o esquecimento no fundo duma gaveta, tanto mais que o valor
estimado (por baixo) é equivalente ao PIB conjunto dos EUA e do Japão em 2011 e
superior ao da UE.
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