A ideia que este país (Portugal) não é para velhos tem vindo a ser reforçada com o aumento da idade da reforma e com as políticas de cortes nas pensões de aposentação e de aumentos das taxas moderadoras no acesso à saúde; o despautério é tal que até já se pode ler no PUBLICO que a ex-líder do PSD, Manuela «Ferreira Leite defende que doentes com mais de 70 anos paguem hemodiálise», suportando na íntegra o custo dos cuidados médicos que lhes permitem sobreviver.
A sanha neoliberal de garantir as melhores condições para investidores e credores é tal que já se terá perdido a própria noção de dignidade; a dignidade humana dos semelhantes e a própria dignidade intelectual dos “iluminados” que opinam e decidem como se se encontrassem rodeados de mentecaptos ou meros zombies. Este fenómeno poderá não ser estranho à quase apatia com que pelo país fora têm sido recebidas as notícias e os anúncios de mais e mais medidas que sempre penalizam os mesmos.
A permanente necessidade de agradar aos “mercados” (leia-se, aos credores) ameaça tornar inviável a existência de todos quantos não sirvam os interesses dos poderosos ou a criação de valor para os accionistas, a ponto de se poder já afirmar que o país também não é para jovens, como já no-lo demonstraram governantes que sem pejo nem nojo os “aconselham” a saírem da sua zona de conforto e a emigrarem.
Eliminados os velhos à míngua de sustento e de cuidados de saúde, excluídos os jovens obrigados a procurar futuro noutras paragens, restam os que ainda têm trabalho e as crianças… acorrentadas a uma pobreza endémica, a mais triste e alienante das pobrezas… a de espírito!
Quanto a estas, a atestar pelo que actualmente se vive na Grécia (o primeiro dos estados europeus a ser objecto de resgate pelo FMI e pelo BCE e o mais próximo balão de ensaio das políticas neoliberais) e a crer nas notícias da BBC e do DINHEIRO VIVO estará para breve um assustador aumento de abandonos infantis, faltando apenas voltarmos a assistir a fenómenos de adopção forçada como aqueles que foram patrocinados por regimes fascistas e nacional-socialistas há 70 anos atrás.
Quando as referências sociais são diariamente espezinhadas por aqueles que supúnhamos ter escolhido para defenderem a sua perenidade, quando as perspectivas e os estímulos que estes proporcionam aos mais jovens são o desenraizamento e uma aculturação forçada, a indignação e a revolta apenas me autorizam o comentário de que este será mais um ano para sentirmos vergonha do nosso país!
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