Enquanto Portugal e uma parte crescente da Europa se afundam numa tempestade financeira fabricada e alimentada a contento dos credores, o Mundo continua a girar, enquanto alguns problemas se resolvem e outros se avolumam.
Nos EUA as atenções da opinião pública parecem centradas nas próximas eleições presidenciais, mas a verdadeira preocupação da Casa Branca deve continuar orientada para o Golfo Pérsico e para a questão nuclear iraniana. A prová-lo está não só o regular manancial de notícias, comentários e análises publicadas na imprensa americana, sobre as intenções iranianas de desenvolver um arsenal nuclear (nada que não relembre de imediato a campanha de “informação” sobre a existência dum alegado arsenal químico iraquiano que precedeu a invasão daquele país), mas também a acção diplomática que recentemente resultou numa decisão da UE e da Austrália de virem a impor um embargo petrolífero ao Irão.
Embora Washington e Teerão continuem a trocar ameaças e se façam sentir até algumas mobilizações militares (muito localizadas e centradas no ponto nevrálgico que é o Estreito de Ormuz), a confirmação da abertura de hostilidades parece muito pouco provável antes da realização das eleições americanas de Novembro, tanto mais que quando ainda se desconhece o concorrente republicano nada indica que a reeleição de Obama dependa duma declaração de guerra.
A subida de tom das declarações americanas e iranianas e uma eventual tentativa de encerramento do Estreito de Ormuz, estarão a agradar de sobremaneira ao vizinho Estado de Israel cujo primeiro-ministro não se coibiu de tornar pública a congratulação do seu governo pela decisão europeia, mesmo quando se encontra sob forte suspeita de estar a alimentar uma de guerra não declarada ao Irão, sob a forma de assassinatos selectivos de especialistas ligados ao programa nuclear iraniano (como se infere da notícia de que o «Irão perde quatro cientistas nucleares em dois anos») ou através da propagação do vírus informático STUXNET, que o I ONLINE garantia que «Vírus que atingiu centrais nucleares no Irão teve origem em Israel e nos EUA», desenvolvido especificamente para atrasar aquele programa.
Outra importante peça no “puzzle” geopolítico local é a Arábia Saudita cuja capacidade militar e financeira é reconhecida, constitui um dos tradicionais opositores ao Irão (que mais não fosse por razões de natureza religiosa, pois os sauditas são maioritariamente wahhabitas, seguidores do ramo sunita mais radical, enquanto os iranianos são maioritariamente xiitas), escoa grande parte da sua produção petrolífera pelo estreito, continua a ser um dos aliados preferenciais (petróleo obriga) dos EUA e não esconde qual dos “lados” no conflito beneficiará do seu apoio, podendo mesmo vir a constituir peça vital numa futura “aliança” anti-iraniana apesar do grande número de bases aéreas e navais de que os EUA já dispõem naquela região.
Duas últimas e tristes razões para acompanharmos com preocupação a crescente tensão no Golfo Pérsico: é que, contra a passividade da China e da Índia (dois dos principais clientes do petróleo iraniano), Irão e EUA poderão encontrar na deflagração dum conflito solução para os problemas internos que os afectam, ou seja, o Irão poderá apresentá-lo como justificação para a manutenção do actual regime teocrático e os EUA como via para atenuar os efeitos económicos da crise global. Duma forma ou da outra, a evolução da situação estará sempre profundamente condicionada à estreiteza dos pontos de vista dos intervenientes.
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