terça-feira, 12 de julho de 2011

O FIM DO NoW

O passado fim-de-semana assistiu, em sentido figurado, ao fim do Mundo. Com uma tiragem recorde, 5 milhões de exemplares do NEWS of the WORLD (NoW para os íntimos) saíram para as bancas marcando o fim do mais popular dos tablóides britânicos, cujo envolvimento num generalizado processo de escutas ilegais ditou o fim da publicação.


Não fossem as razões por detrás do encerramento e seguramente nunca o fim dum jornal sensacionalista como aquele – que apenas será recordado pelo dono, o magnata da imprensa Rupert Murdoch, a quem proporcionou grandes lucros e pelos fãs de mexericos e demais coscuvilhices – constituiria motivo de referência aqui, nem mesmo pelo facto de ter escrito na sua última primeira página «Obrigado e Adeus» no lugar dum mais humilde e adequado «Adeus e Perdoem-nos».


Desenvolvimentos recentes trouxeram de novo à ordem do dia uma prática de escutas telefónicas ilegais, conhecida há vários anos, que além de lançarem a dúvida sobre a idoneidade dos jornalistas do NoW estão a abrir novas “feridas”, havendo já quem se questione sobre idênticas práticas doutros jornais e não esqueça as bem conhecidas ligações entre a equipa directora do jornal e o actual primeiro-ministro (Andy Coulson, ex-redactor-chefe e ex-porta-voz do primeiro-ministro David Cameron, e Rebekah Brooks, ex-editora do NoW e directora executiva da News International, a empresa do universo de Rupert Murdoch detentora do NoW), tudo isto quando estava em vias de se resolver o processo de aquisição da BSkyB (o maior fornecedor do serviço de TV por subscrição no Reino Unido) por… Rupert Murdoch.

Acidental, ou não, o governo conservador de David Cameron reagiu às múltiplas pressões e anunciou um inquérito às actividades do jornal enquanto diz reequacionar o sancionamento do negócio de aquisição da BSky B, que se arrasta desde Junho de 2010 quando a empresa rejeitou uma proposta de “takeover[1] de Murdoch.

Não será pois de estranhar que prontamente Rupert Murdoch tenha “sacrificado” o NoW enquanto, segundo esta notícia do PUBLICO, procura assegurar a concretização do negócio da BSkyB, tanto mais que as suas “boas relações” com Cameron são de há muito conhecidas.


No final, depois de acalmada a tormenta e assegurado o “negócio” de Murdoch (a pronta decisão de sacrificar o NoW deverá surtir o efeito desejado), ficará sempre a pairar a dúvida sobre a isenção do governo de Sua Majestade, o que poderá representar um mal menor caso a situação jurídica de Andy Coulson e de Rebekah Brooks se agrave ao ponto de novas revelações sobre o governo ou alguns dos seus membros começarem a aparecer num ou noutro jornal.


[1] A operação proposta por Rupert Murdoch, já detentor de 39% do capital, fará dele proprietário único duma empresa que desde 2007 tem como presidente o seu filho James.

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