domingo, 17 de maio de 2009

NÃO DIGAM A NINGUÉM…

«Não digam a ninguém, não espalhem a informação, mas os mais poderosos do mundo vão novamente encontrar-se secretamente, para salvarem o planeta da catástrofe económica. A sua morada, caso queiram enviar-lhes as vossas opiniões, é: Nafsika Astir Palace Hotel, Apollonos Avenue 40, 16671 Vouliagmeni, Grécia».

Foi assim que no passado dia 14, Roger Boyes e John Carro iniciavam o artigo «Shadowy Bilderberg group meet in Greece — and here’s their address» no TIMES ONLINE. Mas, não só o habitual humor britânico parece suficiente para dar uma verdadeira imagem do que anualmente se repete num qualquer hotel de super luxo, como a notícia merece um tipo de tratamento mais adequado à realidade além da informação de que «…desde 1954 que um cube de cerca de 130 personalidades, entre políticos consagrados e em ascensão, se reúnem à voltada lareira num hotel protegido com grandes banqueiros e a nata a realeza para discutirem assuntos candentes, trocarem confidencias ou apenas manter-se actualizado com o “eu sei qualquer coisa que tu não sabes”; a lista de participantes não é publicada nem há lugar a qualquer conferência de imprensa».



Esta política de secretismo tem sido a característica desde a primeira hora de uma iniciativa que foi lançada em 1954 com o alto patrocínio do príncipe Bernardo da Holanda (a quem alguns investigadores apontam ligações ao III Reich de Adolf Hitler
[1]) ao que se diz para combater a crescente influência na Europa de políticas anti-americanas, que ganhou o nome a partir do local onde se realizou a primeira reunião – o Hotel Bilderberg – em Oesterbeek, na Holanda e que tem sido mantida em grande parte graças à conivência dos meios de informação cujos proprietários ou grandes decisores são membros activos ou convidados regulares.


Apesar das enormes medidas de segurança que habitualmente rodeiam o evento alguma informação tem transpirado para o conhecimento público e alguns nomes dos habituais participantes, como Henry Kissinger, Zbigniew Brzezinski e os CEO’s das principais multinacionais, e dos principais mentores, tais como David Rockefeller, Paul Wolcker Beatriz da Holanda (filha do príncipe Bernardo) são há muito conhecidos.


Daniel Estulin[2], investigador que há alguns anos tem tentado seguir de perto o desenrolar das reuniões, afirma mesmo que existe um directório integrado por personalidades de várias nacionalidades encarregue das convocatórias aos participantes esporádicos (os políticos em ascensão) entre as quais se conta o nome de Francisco Pinto Balsemão (ex-primeiro ministro de Portugal, jornalista, fundador do Expresso e proprietário do grupo Impresa)[3], cuja influência poderá ser avaliada pelo facto da reunião de 1999 ter tido lugar no Caesar Park Hotel Penha Longa, em Sintra.[4]


Como se pode inferir do teor do artigo do TIMES ONLINE, a nata da finança e da política está reunida este fim-de-semana na Grécia, o que o artigo não diz, naturalmente, é que entre os participantes estão Manuela Ferreira Leite e Manuel Pinho (a líder da oposição e o ministro da Economia do governo de José Sócrates) e nem mesmo as parcas notícias que têm circulado no país referem que entre os participantes em anteriores reuniões daquele Clube se encontram nomes como o de José Sócrates, de Pedro Santana Lopes e de Durão Barroso (presentes na reunião de 2004 que teve lugar em Stresa, na Itália, imediatamente antes da saída de Durão Barroso para a UE, a sucessão de Santana Lopes e a eleição de Sócrates no ano seguinte), António Guterres (que participou na reunião de 2005, em Rottach-Egem, na Alemanha, logo após a sua nomeação para Alto Comissário da ONU para os refugiados), de Rui Rio (que participou na reunião que no ano passado teve lugar em Chantilly, nos EUA); estas e outras interessantes curiosidades sobre a carreira dos políticos[5] que têm passado por aqueles conclaves podem até permitir a formulação de algumas especulações sobre a evolução próxima da cena política nacional…
_________
[1] Entre estes conta-se Gyeorgos C. Hantonn, autor do livro «Rape of the Constitutin; Death of Freedom», no qual defende que o príncipe Bernardo se baseou no modelo nazi de gestão empresarial para o Bilderberg.
[2] Natural da ex-União Soviética de onde a família foi expulsa em 1980 devido ao activismo do pai, tem desenvolvido um trabalho de investigação em torno do Clube Bilderberg, sendo o autor de uma das obras mais aclamadas sobre o assunto. O seu «Toda a Verdade sobre o Clube Bilderberg» que foi considerado o livro do ano (não-ficção) no Canadá e tem edição portuguesa das Publicações Europa-América, revela boa parte da natureza das reuniões mantidas em vários locais do mundo, bem como a sua possível influência sobre as grande decisões políticas, económicas e sociais desde a sua primeira reunião em 1945.
[3] Além do já referido livro de Daniel Estulin, idêntica informação consta desta notícia do ECONÓMICO.
[4] A lista dos locais e datas das reuniões pode ser encontrada nesta página da WIKIPÉDIA.
[5] Entre os casos mais flagrantes (que Daniel Estulin cita no se livro) contam-se: a eleição de Bill Clinton em 1992, depois deste ter participado na reunião de 1991; depois de ter assistido à reunião de 2003, Tony Blair, foi escolhido como líder dos Trabalhistas, em 1994, e primeiro-ministro em 1997; o ex-Secretário-geral da NATO, Jorge Robertsom, eleito para o cargo em 1999 depois de ter participado na reunião de 1889; a escolha de Romano Prodi para presidente da Comissão Europeia em Setembro de 1999, poucos meses após ter participado na reunião desse ano. Não mencionado por aquele investigador (a publicação do livro é de data bem anterior), existem fontes que admitem a possibilidade de Barack Obama e Hillary Clinton também terem participado (pelo menos em parte) da reunião que no ano passado teve lugar no estado norte-americano de Virgínia.

Sem comentários: