segunda-feira, 11 de maio de 2009

HUGO PRATT VOLTOU

A leitura de um suplemento do “Corriere della Sera” de 30 de Abril[1], que trazia uma notícia sobre a recente publicação de um trabalho inédito de Hugo Pratt – nem mais nem menos que a uma adaptação de Sandokan, a imortal personagem criada por Emílio Salgari[2] – que me despertou a atenção e pouco tardou a que iniciasse a sua procura pelas livrarias.

Esta obra, com capa de Patrizia Zanotti (habitual colorista das obras de Pratt) e de que aqui deixo uma reprodução

foi iniciada na década de 70, permanece inacabada, junta o traço de Pratt à adaptação do texto da responsabilidade de Mino Milani e apresenta além da inegável qualidade do traço de Pratt características que a tornam particularmente importantes, como sejam a evidente proximidade com Corto Maltese (ambos são marinheiros e em comum revelam ainda um forte sentido de luta pela justiça e liberdade) e uma claríssima distinção da figura criada em Hollywood para Sandokan, pois Pratt não esquece nem mistifica a origem do seu “herói” malaio (e não indiano).

Julgada definitivamente perdida e reencontrada há cerca de um ano por Alfredo Castelli (uma das maiores autoridades mundiais em questões de Banda Desenhada, autor prolixo de guiões e criador de figuras como Martin Mystère, o detective do impossível), nunca terá sido acabada pela conjugação de múltiplas vicissitudes, das quais se poderão destacar duas: o facto de Pratt dedicar cada vez mais tempo ao crescentemente famoso Corto Maltese e às mudanças ocorridas no “Corrieri dei Picolli” (publicação destinada às camadas mais jovens) que ditaram a mudança de nome para “CorrierBoy” e a saída da sua redacção dos seus principais responsáveis e amigos de Pratt.

Saúda-se agora o regresso de Hugo Pratt[3], no seu melhor estilo – a preto e branco – e fazendo recordar outras obras literárias que também adaptou para Banda Desenhada, como “A Ilha do Tesouro”, de Robert Louis Stevenson[4] e as lendárias aventuras de Simbad, o Marinheiro, incluídas na colectânea de contos persas “As Mil e Uma Noites”.

Completo ou não, qualquer trabalho de Pratt deve merecer sempre a melhor atenção e o esforço para o adquirir.
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[1] Refira-se que o JN e o PUBLICO difundiram idêntica notícia.
[2] Emilio Salgari (1862-1911) escritor italiano, autor de vários livros mas cuja notoriedade resultou principalmente da criação da figura de Sandokan, que o tornou mundialmente famoso como autor de literatura de aventuras. As figuras de Sandokan, um pirata empenhado na luta contra a ocupação inglesa e holandesa, e de Yannez têm sido companhia e estímulo para muitas gerações de jovens.
[3] Para já apenas em Itália, pois a edição francesa não deverá ocorrer antes do Outono e de outras nem se fala.
[4] Robert Louis Stevenson (1850-1894), natural da Escócia, engenheiro de formação, notabilizou-se como escritor, sendo “ A Ilha do Tesouro” e “O Médico e o Monstro” as suas obras de referência.

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