domingo, 12 de fevereiro de 2006

DEPOIS DO AFEGANISTÃO E DO IRAQUE SEGUE-SE O IRÃO?

Notícias hoje difundidas pelo SUNDAY TELEGRAPH dão conta de que a administração Bush há vários meses que vem planeando um ataque preventivo ao Irão, existindo para o efeito uma equipa de especialistas que reporta directamente ao secretário de estado da defesa, Donald Rumsfeld.
De acordo com a fonte citada tal dever-se-á ao clima de crescente tensão em torno da questão nuclear, parecendo que o presidente George W Bush não deverá abandonar a Casa Branca (daqui a cerca de dois anos) sem “resolver” a questão de impedir aquele país de aceder à tecnologia que lhe permita a produção de armamento nuclear.

A polémica em torno do direito do Irão produzir energia a partir de um processo de cisão nuclear, sendo anterior às ocupações do Afeganistão e do Iraque (países com os quais aquele faz fronteira), ganhou nova dimensão após o início da “guerra contra o terror”. Importa igualmente não esquecer que desde 1979 (ano do derrube do regime pró-ocidental do Xá Reza Pahlevi que fora recolocado no trono em 1953 após um golpe organizado por ingleses e americanos em resposta à nacionalização do petróleo decretada por Mohamed Mossadegh), da posterior crise dos reféns da embaixada americana e do fracasso que foi a operação militar organizada para lhe pôr cobro, que os EUA sempre têm alimentado um certo desejo de “desforra”. Tanto assim é que durante a guerra Irão-Iraque a administração americana colaborou activamente no processo de armamento de Saddam Hussein, não sendo mesmo de excluir a hipótese de ter sido um dos impulsionadores do conflito.

Os países ocidentais estão em crer que embora tenha ratificado o tratado de não proliferação nuclear, e sempre tenha colaborado no processo de inspecções periódicas da AIEA (as quais em muitas circunstâncias ultrapassaram o estabelecido no tratado) o Irão poderá ter julgado oportuno o momento de tensão que se vive no Médio-Oriente para subir um degrau na tecnologia nuclear. Para ajudar esta tese tem sido dada ampla cobertura aos inflamados discursos nacionalistas do presidente iraniano, Mahmud Ahmadinejad, e em particular aos que referem a eliminação do estado de Israel.

Queiramos, ou não, sempre que se fala no Médio-Oriente voltamos à questão de Israel, tanto mais que a confirmarem-se as teses americanas, o Irão passaria a dispor de capacidade idêntica à do estado judaico, que segundo informações recolhidas pela CIA disporá, no mínimo, de uma centena de ogivas).

Neste clima de crescente instabilidade e após a decisão do conselho da AIEA de apresentar o dossier iraniano na próxima reunião do Conselho de Segurança da ONU, à qual o governo iraniano respondeu com a suspensão das inspecções daquele organismo às suas instalações nucleares, surge agora esta muito conveniente “fuga de informação” do Pentágono, talvez como mais um contributo para a formação de uma opinião pública favorável a mais uma invasão.

Começa a ser cada vez mais previsível a reacção americana aos alegados fracassos das soluções diplomáticas - quando fraqueja a força dos argumentos um estado militar apenas conhece a resposta da força bruta – restando apurar se depois não acontece como as famosas armas químicas de Saddam Hussein.

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