sexta-feira, 3 de fevereiro de 2006

APITO DOURADO

Quase dois anos após as primeiras notícias sobre a prática de irregularidades envolvendo árbitros de futebol, dirigentes de clubes e de autarquias, eis que surge a confirmação da Procuradoria-Geral da República de que foram constituídos 29 arguidos no processo “Apito Dourado”.

Tanto quanto informa aquele organismo, tratam-se apenas de pessoas ligadas a actos praticados em Gondomar - uma vez que os respeitantes a outras áreas do território nacional deverão vir a ser analisados pelos procuradores das respectivas comarcas (admite-se que estas possam ser Porto, Lisboa, Leiria, Portalegre, Funchal, Braga, Vila Verde e Guimarães) – sem especificação das respectivas identidades.

Ao fim de todo este tempo o ministério público apenas organizou um processo envolvendo os tais 29 arguidos quando se sabe que a Polícia Judiciária terá remetido àquele organismo a documentação referente aos interrogatórios de 199 pessoas.

A dimensão do número de interrogados, a influência de alguns deles - recorde-se que entre estes contam-se Valentim Loureiro (presidente da câmara de Gondomar, presidente da Liga de Clubes, e ex-presidente do Boavista), o seu filho João Loureiro (presidente do Boavista) e Pinto da Costa (presidente do Futebol Clube do Porto) – poderá justificar o muito cuidado colocado neste trabalho, mas dificilmente pode justificar uma tanto tempo e para produzir resultados tão parcos.

Mesmo respeitando o princípio da presunção da inocência de todos os arguidos (e dos muitos outros nomes que de tempos a tempos surgiam referidos na imprensa), ninguém pode estranhar a enorme expectativa que rodeia todo este caso, seja por parte dos indefectíveis defensores do futebol nacional, seja por todos os outros que gostaríamos de ver introduzidos alguns conceitos de ética e de separação de “poderes” num meio onde não custa a crer esteja totalmente desprovido deles.

Como se não bastasse a enorme promiscuidade que se conhece entre os poderes autárquicos e os clubes locais (principalmente aqueles que se dedicam à prática do futebol), constata-se agora que os mecanismos de “compadrio” se encontram já ramificados pelos escalões principais do futebol profissional. A este nível é ainda mais preocupante a clara interligação de “interesses” entre dirigentes de clubes e políticos.

Mesmo ignorando-se, oficialmente, os nomes dos arguidos já constituídos e o que resultará dos processos a serem instaurados noutras comarcas (para conhecer o resultado espero que não seja necessário decorrer mais uns anos), seria muito bom para este país que o processo do “Apito Dourado” trouxesse, de uma vez por todas, a “limpeza” que o sector do futebol, entre outros, bem precisa!

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