domingo, 20 de novembro de 2005

TER OU NÃO TER PERFIL PRESIDENCIAL

Num artigo de opinião hoje editado no DIÁRO DE NOTÍCIAS, Diogo Pires Aurélio (apoiante expresso, como o próprio muito bem fez em salientar), traz para o debate sobre a eleição presidencial a questão do perfil humanista dos candidatos.

Disserta muito a propósito sobre o que é ser ou não ser humanista e, por natural contraposição, sobre o ser ou não ser tecnocrata. Lembra que esta qualificação nunca em eleições anteriores foi colocada, mas, na ânsia de defender o seu candiadto, parece-me que esqueceu a questão principal: o que define um bom candidato presidencial?

Quais as qualidades que um candidato ao cargo presidencial, no nosso país, deve ter?

Creio que quase toda a gente responderá pela necessidade de uma personalidade que alie a capacidade de análise à de diálogo, a capacidade de definir os momentos mais oportunos para a intervenção com a de distinguir o essencial do acessório e que, “last but not least” coloque os interesses colectivos acima dos interesses pessoais (entendendo-se estes como os de grupos de interesses).

É óbvio que para a concentração destas características não fará grande diferença se o perfil do candidato é mais humanista ou mais tecnocrático, mas quando deixamos o campo do abstracto e passamos a analisar os perfis dos candidatos em liça, então tudo muda de figura.

A actuação dos candidatos e a sua capacidade de desempenho perante situações diversas é do razoável conhecimento dos eleitores – Cavaco Silva foi primeiro-ministro, entre 1985e 1995, de três governos do PSD e candidato a anteriores presidenciais; Mário Soares foi presidente da República em dois mandatos e também foi primeiro-ministro de três governos, sendo dois deles de coligação com o CDS e o PSD; Manuel Alegre é deputado desde 1975 e actualmente um dos vice-presidentes da Assembleia da República; Jerónimo de Sousa é o secretário-geral do PCP, deputado e também já foi candidato a anteriores presidenciais; Francisco Louçã é deputado desde 1999, fundador do Bloco de Esquerda e membro da sua direcção desde essa data; Garcia Pereira é advogado, já foi candidato a anteriores eleições presidenciais e é membro do PCTP – estando eu certo que ninguém duvida dos conhecimentos económicos de Cavaco Silva, da capacidade política de Mário Soares e de Jerónimo de Sousa, da capacidade política e literária de Manuel Alegre, dos conhecimentos de economia e direito de Francisco Louçã e Garcia Pereira, também sei que cada um fará a sua apreciação sobre as respectivas qualidades para o exercício do cargo a que agora se candidatam.

E aqui está o cerne da questão qual deles possui o melhor conjunto?

- Cavaco Silva, líder nas sondagens, responsável por governos que contribuíram para a actual situação ruinosa da economia nacional (não esquecer que foi durante a sua passagem pelo governo que o país recebeu o maior fluxo de fundos comunitários malbaratados em estradas de má qualidade, em fantásticos e fantasmagóricos projectos de formação profissional, nos Centro Cultural de Belém, na Ponte Vasco da Gama e na Expo98)?

- Mário Soares, que era Presidente da República durante ao anos em que os governos de Cavaco Silva desperdiçaram uma oportunidade de ouro de terem contribuído para a modernização do aparelho produtivo nacional, caso tivesse sido esse o destino dos fundos comunitários?

- Manuel Alegre, que na qualidade de deputado raramente se ouviu criticar a ausência de políticas estruturantes para o país?

- Jerónimo de Sousa, Francisco Louçã e Garcia Pereira, que embora criticando as políticas dos governos PS e PSD, que entre si dirigiram o país nestes últimos 30 anos, também nunca conseguiram encontrar a via para uma oposição eficaz a essas mesmas políticas?

A resposta será óbvia para todos os que entenderem que a condução da vida pública se regula pelo mesmo tipo de princípios que vigoram no mundo do futebol – votarão segundo a sua cor preferida!

Para todos os outros, os que sempre vão recusando o princípio de que existem homens que nunca erram e raramente têm dúvidas, permanece o grande dilema de escolher alguém que entendam menos mau para a função.

Concentrando a atenção nos três principais candidatos (que me desculpem Jerónimo de Sousa, Francisco Louçã e Garcia Pereira, pessoas a quem reconheço a dignidade de enfrentarem este combate, mas com muito poucas hipóteses de se revelarem soluções viáveis para um número significativo de eleitores) e pesando os respectivos prós e contras, mantenho hoje o que escrevi aqui sobre Cavaco Silva, sobre os outros “mon coeur balance” mas mantenho a minha mente aberta e fria.

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