É do senso comum que a maioria das cimeiras
multilaterais são enfadonhas e de pouca ou nula importância, até quando parece
suceder o contrário, como aconteceu em 2009 com a cimeira do G20 onde se
anunciou o acordo ao fornececimento de estímulo económicos e empréstimos aos
países com os problemas criados pela crise financeira, que ao menos desempenhou
algum papel para ajudar o mundo a evitar uma completa repetição da década de
1930, ou em 2010, quando em contraste, se formalizou uma viragem para uma
política de austeridade que atrasou significativamente a recuperação económica
e que se revela agora responsável pelo o aumento do extremismo político.
Inédito terá sido ver agora a
tradicional encenação, do entendimento e da concórdia entre os líderes das
maiores economias, abalada pela passagem de Donald Trump pelo Quebec, onde até
se poderia esperar um discreto anúncio do iníco duma guerra comercial, ou no
limite o despontar do colapso da aliança ocidental, mas não o pedido norte-americano
de readmissão da Rússia para o grupo ou a exigência de abolição das tarifas
praticadas sobre as exportações americanas, quando a própria administração
norte-americana reconhece que a Europa pratica uma tarifa média da ordem dos 3%.
Interessante – e revelador da sua
ignorância e da dos conselheiros de que se rodeia – foi saber que Trump
confunde taxas comerciais com impostos sobre o consumo (como é o caso do IVA
europeu), para criticar os seus parceiros económicos e parecer o paladino do
«America first»; esta táctica poderá agradar aos rednecks (expressão usada nos EUA para designar o estereótipo do
habitante do interior, tradicionalista e com baixos rendimentos; o equivalente ao
saloio nacional) com que encheu os seus comícos eleitorais mas dificilmente
trará outro resultado aos EUA além do ridículo.
A guerra comercial declarada pela
administração Trump poderá acabar por custar mais aos EUA que aos seus
parceiros e talvez para o esconder – ou simplesmente porque é essa a estratégia
de qualquer vendedor de banha da cobra – ele tente falar mais e mais alto que
os restantes, mas o que não conseguiu disfarçar foi a estranha coincidência de interesses
com a Rússia (para mais numa cimeira eminentemente económica) nem o evidente mal-estar
de ter que conviver com quem não o adula.
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