terça-feira, 19 de junho de 2018

MARKETING POLÍTICO


O mês em curso registou dois importantes areópagos: mais uma cimeira do G7 e o encontro entre Donald Trump e Kim Jong-Un.

De ambos sobraram tonitruantes declarações trumpianas mas pouco ou nada de verdadeiramente concreto e importante. Da reunião do G7 (grupo que supostamente reúne as sete maiores economias mundiais, já incluiu a Rússia, afastada a pretexto da questão ucraniana e da anexação da Crimeia, mas exclui a China que disputa o primeiro lugar com os EUA) quase só ficou a polémica em torno da declaração final e do comentário insultuoso de Trump.

Já da muito aguardada, cancelada e reagendada reunião com o líder norte-coreano, depois da troca de elogios (que se seguiu à troca de insultos dos últimos tempos) terá resultado um acordo muito vago e semelhante a outros que no passado acabaram por falhar, mas nada que tenha impedido Trump de anunciar uma grande vitória, nem de voltar a gabar as suas conhecidíssimas capacidades negociais.

Para além do exacerbado ego de Trump, o verdadeiro ganhador foi, na realidade, a China que assim acalma a tensão na sua fronteira do sul, deixa o Japão e os EUA militarmente mais vulneráveis enquanto cimenta a sua estratégia para o disputado mar do Sul da China (rico em hidrocarbonetos e por onde passa um terço do comércio marítimo mundial), que deixou “brilhar” o seu truculento vizinho, que vai agora à China explicar as negociações com Trump, e ofereceu uma pouco dispendiosa acção de propaganda interna ao errático presidente norte-americano.


A troco de muitas promessas e de uma mão-cheia de nada, Trump conseguiu a propaganda que necessitava para fins internos, quando o balanço da sua política doméstica se revela cada vez menos positivo, a sua estratégia de guerra comercial parece cada vez menos defensável e quando se aproximam eleições intercalares de cujo resultado depende completamente para a continuação da sua famigerada política isolacionista do «America first».

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