quarta-feira, 5 de abril de 2017

O MELHOR ECONOMISTA DO MUNDO

(Revisão do livro de Michael Hudson, por Paul Craig Roberts, ex-secretário adjunto do Tesouro dos EUA e editor associado do Wall Street Journal)

«Se você quer verdadeiramente aprender economia em vez do lixo económico neoliberal, leia os livros de Michael Hudson.

O que você vai aprender é que a economia neoliberal é uma apologia para a classe rentista e para os grandes bancos que conseguiram financiarizar a economia, deslocando o poder de compra de bens e serviços pelos consumidores, que impulsionam a economia real, para o pagamento de juros e taxas aos bancos.

O seu último livro é «J é para Junk Economics». É escrito sob a forma de um dicionário, mas as definições dão-lhe o significado preciso dos termos económicos, a história dos conceitos económicos e descrevem a transformação da economia desde a economia clássica, onde era dado o ênfase à tributação dos rendimentos que não são o resultado da produção de bens e serviços, à economia neoliberal, que se baseia na tributação do trabalho e da produção.


Esta é uma diferença importante que não é fácil de entender. Os economistas clássicos definiram a "renda não ganha" como "renda económica". Esta não é a renda que paga pelo seu apartamento. A renda económica é um fluxo de renda que não tem contrapartida no custo incorrido pelo destinatário do fluxo da renda.

Por exemplo, quando uma autoridade pública, digamos a cidade de Alexandria, Virgínia, decide ligar Alexandria a Washington, com um metro pago com dinheiro público, os proprietários de imóveis ao longo da linha de metro beneficiam dum aumento dos valores da propriedade. Eles devem o acréscimo de riqueza e a renda aumentada dos valores de aluguer das suas propriedades aos dólares gastos pelos contribuintes. Se esses ganhos fossem tributados, a linha do metro poderia ter sido financiada sem o dinheiro dos contribuintes.

São esses ganhos de valor produzidos pelo metro, ou por uma estrada financiada pelos contribuintes, ou por ter propriedades à beira-mar em vez de propriedades longe da praia, ou por ter propriedades no lado ensolarado da rua duma área de negócios, que são "rendas económicas". Lucros de monopólio devido a um posicionamento único também são rendas económicas.

Hudson acrescenta a essas rendas os juros que os governos pagam aos obrigacionistas quando aqueles podem substituir a emissão de títulos pela impressão de dinheiro. Quando os governos permitem que os bancos privados criem o dinheiro com o qual compram os títulos do governo, os governos criam passivos para os contribuintes que eram facilmente evitáveis se, no seu lugar, criassem o próprio dinheiro para financiar os seus projectos. A acumulação da dívida pública é inteiramente desnecessária. Não é criado menos dinheiro pelos bancos que compram os títulos do governo do que seria criado se o governo imprimisse dinheiro em vez de títulos.

A incapacidade da economia neoliberal de diferenciar os fluxos que são rendas económicas sem custo de produção associado da produção efectiva, torna as Contas Nacionais a principal fonte de dados sobre a actividade económica nos EUA, extremamente enganosas. Pode-se dizer que a economia está a crescer porque os projectos de investimento financiados pela dívida pública aumentam as rendas ao longo das linhas de metro.

Os economistas do "mercado livre" da actualidade são diferentes dos clássicos da economia de livre mercado. Os economistas clássicos, como Adam Smith, entendiam um mercado livre como aquele em que a tributação libertava a economia de rendas económicas não tributadas. Na economia neoliberal, explica Hudson, "livre mercado" significa liberdade para extracção de rendas livres de impostos e regulamentações governamentais. E isso faz toda a diferença.

Consequentemente, a actual economia dos EUA é orientada por formuladores de políticas, incluindo a Reserva Federal, sobre a maximização rentista à custa do crescimento da economia real. O rendimento rentista mantém a economia produtiva num abraço de morte. A economia não pode crescer, porque o rendimento dos consumidores é sugado em pagamento de juros e taxas aos bancos, e não está disponível para o aumento das compras de bens e serviços reais.

Independentemente, cheguei à mesma conclusão de Hudson de que a economia neoliberal é um instrumento para retirar aos trabalhadores e aos produtores e transferir prémios à classe rentista. A economia neoliberal é um mecanismo predatório que justifica os rendimentos exorbitantes dos “Um Por Cento”, enquanto responsabiliza pela dívida crescente aqueles que força ao endividamento para sobreviverem. A virtude de Hudson é que ele explica o desenvolvimento histórico da dívida predatória e deixa claro que este é o status que os “Um Por Cento” pretendem para os restantes 99%. Ele ressuscita a economia clássica e reformula a teoria económica de acordo com os factos no terreno em vez dos interesses rentistas.

Hudson e eu somos co-autores, pelo que em tempos passados, teria sido inadequado para mim rever o trabalho de um colega. No entanto, os apologistas neoliberais dos “Um Por Cento” não vão se confrontar com os factos de Hudson. Como eu não acho que minha integridade ou a de Hudson esteja em questão, não tenho dúvidas em apresentá-lo a este importante trabalho.

Compre o livro. Leia-o e estude-o. Aprenda a superar a corrupta economia neoliberal.»

Sem comentários: