Quando,
no mundo ocidental, é dada cada vez mais atenção aos movimentos populistas,
seja pela recente eleição de Donald Trump para presidente dos EUA seja pelo
próximo quadro eleitoral europeu (especialmente depois do referendo britânico
que levou ao Brexit), emerge uma figura que muitos europeus ainda não entenderão
verdadeiramente: o euro-deputado e ex-líder do UKIP, Nigel Farage.
Este
defensor declarado da saída do Reino Unido da UE e antigo membro do Partido
Conservador britânico tornou-se notado em Bruxelas pela exposição de uns
quantos casos de corrupção ou de comportamento eticamente criticável entre
candidatos e comissários europeus, incluindo o então presidente da Comissão
Europeia, Durão Barroso.
Falhada
a tentativa de eleição para a Câmara dos Comuns, em 2010, mas concretizada a
vitória no referendo britânico, deixou a liderança do UKIP o que permite especular
que talvez o seu objectivo não seja apenas o Brexit, antes o colapso da União
Europeia. E os ventos parecem favoráveis quando as projecções para as próximas
eleições na Europa atribuem fortes probabilidades aos seus homólogos holandeses
e franceses e especialmente depois da eleição de Trump. O mesmo que elogiou o
Brexit como "uma
grande coisa", que disse repetidamente que pretendia "designar
negociadores duros e inteligentes para lutar pelos trabalhadores americanos"
e que no lugar de iniciar um conflito com a China (de consequências duvidosas) poderá
optar por atirar os países europeus uns contra os outros.
A
UE não é apenas um alvo muito fácil, é o elo mais fraco, tanto mais fraco
quanto há décadas que os ingleses a vêem corroendo pelo interior, e que a
eminência do Brexit vai proporcionar aos
EUA a promessa dum grande tratado
de comércio livre com o Reino Unido que será simultâneamente uma mensagem clara
para os restantes membros da UE: deixem a União e beneficiarão dum tratamento
preferencial.
Incapaz
(ou insuficiente forte) para enfrentar directamente a China, o seu mais sério
rival e concorrente ao papel de principal potência, os EUA deverão aumentar a
pressão para a fragmentação duma Europa que nunca se revelou efectivamente
capaz de fazer valer internacionalmente o seu peso económico e político podendo
o primeiro sinal vir a ser o endurecimento das condições de atribuição
de vistos para os EUA aos empresários alemães e franceses ou a apresentação
à Alemanha da factura adicional pelas tropas americanas estacionadas no seu
território, enquanto os britânicos e os cidadãos dos países sem "migrantes
muçulmanos da UE" (como a Polónia e a Hungria) serão recompensados com o
acesso ultra-rápido aos negócios além-Atlântico.
Se
isto acontecer a UE não tardará a entrar em colapso o que poderá libertar os
ingleses da necessidade de lidar com a realidade confusa do pós-Brexit, podendo
até o Reino Unido conservar um lugar que impeça os acontecimentos e bloqueie a solução;
o impasse levará muitos dos cidadãos europeus a culpar a UE (e não os EUA), reforçando
o papel profético dos populistas, como Nigel Farage, que não enjeitarão a oportunidade
para mostrar que os Estados-Membros
até fazem fila para sair da UE.
Num
contexto destes, até poderão ser desnecessários os esforços de Vladimir Putin para
garantir o mesmo efeito através da implantação dos seus homens nos Estados
Bálticos, ou para reduzir a atractividade da UE para a Ucrânia,
a Geórgia,
ou qualquer outra parte da antiga União Soviética.
Em
resumo, o futuro continuará a apresentar-se pessimista para uma UE agarrada às suas
actuais estruturas não democráticas e não eleitas (como a Comissão Europeia e o
Ecofin) e bloqueada por lideranças atávicas e desprovidas de visão para lançarem
um processo de reforma da base até ao topo duma estrutura que sempre deixou
campo livre a um Reino Unido mais atlantista que europeísta, enquanto manietava
quem denunciasse o absurdo daquela estratégia e pugnasse pela construção duma
Europa dotada das estruturas adequadas (eleitas pelos cidadãos, capazes de
criar sistemas fiscais e orçamentais dignos duma verdadeira união e de um
exército único capaz de projectar força e corporizar uma política externa efectiva)
no lugar da simples nomenclatura criada com o BCE e o Parlamento Europeu.
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