quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

TRUMP E A PALESTINA

Depois da administração de Donald Trump ter divulgado a escolha de David Friedman como «Futuro embaixador dos EUA em Israel, o defensor dos colonatos que critica judeus de esquerda», já nem parece estranho que, no dia em que o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, é recebido na Casa Branca, surja a notícia que uma «Fonte da administração Trump sugere que solução de dois Estados pode ser abandonada».


Em Washington têm-se avolumados os sinais de significativa inversão de estratégia relativamente a Israel e à questão palestiniana; primeiro foi a pronta reacção à inédita decisão da anterior administração se abster numa votação na ONU sobre a política israelita de expansão de colonatos, quando o próprio Trump veio dizer que «As coisas serão diferentes a partir de Janeiro», depois foi a questão da instalação em Jerusalém da representação americana em Israel, a que os palestinianos reagiram dizendo que «Mudar embaixada dos EUA para Jerusalém “será um crime de guerra”», mas o que é realmente preocupante neste alinhamento ostensivo com os israelitas é que os EUA estão efectivamente a hipotecar as suas já muito ténues capacidades como tradicional mediador entre judeus e palestinianos.

Mesmo que só raramente aceite como mediador imparcial, os EUA conseguiram alguns progressos na delicada questão palestiniana através da solução “dois povos-dois estados” que esteve na origem dos Acordos de Oslo mas que foi invariavelmente torpedeada pela prática israelita de expansão dos colonatos (ver a propósito o post «O FIM DA SOLUÇÃO DOS DOIS ESTADOS» e outros nele referidos) que a pouco e pouco foram transformando o território palestiniano numa manta de retalhos (situação agravada ainda pela construção de muros de separação) economicamente inviável. As posições agora assumidas pela administração Trump deverão ditar o adiamento de qualquer solução para um conflito (ora aberto, ora latente) que há décadas incendeia a região e acabar definitivamente com a ideia de que Israel é o exemplo de um estado democrático no Médio Oriente.

Depois de décadas e décadas em que beneficiaram duma má consciência ocidental sobre o Holocausto (tragédia de cuja recordação usam e abusam) e respaldados agora por uns EUA autárcicos e fundamentalistas (que hipocritamente se dizem satisfeitos com a solução "que eles preferirem" para conflito israelo-palestiniano) será enorme a tentação entre os fundamentalistas judaicos para recuperarem o seu velho sonho do Grande Israel, assim a comunidade internacional os deixe...

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