Depois da administração
de Donald Trump ter divulgado a escolha de David Friedman como «Futuro
embaixador dos EUA em Israel, o defensor dos colonatos que critica judeus de
esquerda», já nem parece estranho que, no dia em que o primeiro-ministro
israelita, Benjamin Netanyahu, é recebido na Casa Branca, surja a notícia que uma
«Fonte
da administração Trump sugere que solução de dois Estados pode ser abandonada».
Em Washington
têm-se avolumados os sinais de significativa inversão de estratégia relativamente
a Israel e à questão palestiniana; primeiro foi a pronta reacção à inédita decisão
da anterior administração se abster numa votação na ONU sobre a política
israelita de expansão de colonatos, quando o próprio Trump veio dizer que «As
coisas serão diferentes a partir de Janeiro», depois foi a questão da
instalação em Jerusalém da representação americana em Israel, a que os
palestinianos reagiram dizendo que «Mudar
embaixada dos EUA para Jerusalém “será um crime de guerra”», mas o que é
realmente preocupante neste alinhamento ostensivo com os israelitas é que os
EUA estão efectivamente a hipotecar as suas já muito ténues capacidades como tradicional
mediador entre judeus e palestinianos.
Mesmo que só raramente
aceite como mediador imparcial, os EUA conseguiram alguns progressos na
delicada questão palestiniana através da solução “dois povos-dois estados” que esteve
na origem dos Acordos de Oslo mas que foi invariavelmente torpedeada pela
prática israelita de expansão dos colonatos (ver a propósito o post «O
FIM DA SOLUÇÃO DOS DOIS ESTADOS» e outros nele referidos) que a pouco e
pouco foram transformando o território palestiniano numa manta de retalhos (situação
agravada ainda pela construção de muros de separação) economicamente inviável.
As posições agora assumidas pela administração Trump deverão ditar o adiamento
de qualquer solução para um conflito (ora aberto, ora latente) que há décadas incendeia
a região e acabar definitivamente com a ideia de que Israel é o exemplo de um
estado democrático no Médio Oriente.
Depois de
décadas e décadas em que beneficiaram duma má consciência ocidental sobre o
Holocausto (tragédia de cuja recordação usam e abusam) e respaldados agora por uns
EUA autárcicos e fundamentalistas (que hipocritamente se dizem satisfeitos
com a solução "que eles preferirem" para conflito
israelo-palestiniano) será enorme a tentação entre os fundamentalistas
judaicos para recuperarem o seu velho sonho do Grande Israel, assim a
comunidade internacional os deixe...
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