De há muito
tempo que o discurso político nacional se tornou redundante, algo que não
raramente é pior que ser redutor; a redundância é evidente e bacocamente
repetida pelos actores políticos que diariamente proliferam nas notícias, até
por aqueles que, de quando em vez, se esforçam por parecer diferentes.
Talvez no caso
destes até acabe por ser mais grave, pois além de não o conseguirem transmitem
afinal uma imagem de mais pobre e triste atavismo.
Vem isto a
propósito da mais recente “boutade”
da Srª Swapp que a par com o convite aos mais jovens para que se multipliquem,
não se esqueceu de afirmar que o «País tem "cofres cheios"»…
É
claro que a “senhora ministra” estava a falar para jovens correlegionários (daqueles
que aspiram a enxamear os “corredores do poder” e cujo principal contributo será
sempre o do inefável apoio e concordância com o “chefe” do momento) a quem
importa confortar e proporcionar uma visão com futuro (que mais não seja para
compor as plateias), num país a quem o mesmo futuro tem sido aviltantemente
negado, o que é já um claro sintoma de atavismo.
Em si mesmo o
atavismo não se traduz numa qualidade simplesmente boa ou má, mas nas “mãos”
desta gentinha consegue ganhar foros e contornos inauditos. O descabido da
intervenção foi tal que até os mais indefectíveis comentadores criticaram a
oradora; Marques Mendes disse que «“Maria
Luís Albuquerque esteve mal”» e o putativo candidato presidencial, Marcelo
Rebelo de Sousa, que a «Ministra
das Finanças “falou um bocadinho de mais”».
Por outro
lado, se o apelo à multiplicação dos “jotinhas” até é entendível (afinal a
oradora falava na sessão de encerramento dumas jornadas
da JSD, oportunamente intituladas “Portugal nas tuas mãos”, ciente da
importância de ver reproduzidos os modelos e neste
capítulo o essencial é multiplicar os seguidores), já a referência aos cofres
apresenta uma inegável referência bulionista[i]
e uma tristíssima consonância salazarenta, que não pareceu afectar muita gente,
nem sequer por revelar uma completa sobranceria a respeito dum dos grandes
debates que há anos divide a comunidade académica e que se traduz na questão de
saber se «“O
PIB mede tudo, menos o que faz a vida valer a pena”».
Salvo as
tradicionais reacções políticas e os chistes e as caricaturas (de sucesso
garantido entre nós)...
…poucos foram
os comentários que apontassem o ridículo das afirmações e, ainda pior, o
falacioso. É que, como bem pudemos comprovar durante a vigência do Estado Novo,
existe um fosso enorme entre as finanças públicas e as das famílias e quando as
primeiras se vangloriam das suas burras[ii]
cheias fazem-no seguramente a expensas dos rendimentos e do bem-estar das
segundas.
[i] Recorde-se que o
bulionismo, modelo de mercantilismo que preconizava a acumulação de metais
preciosos em detrimento do investimento, foi a forma mais primitiva de
mercantilismo que conheceu ainda as variantes comercial (usada pela Inglaterra)
e a francesa (também conhecida como colbertismo, do ministro francês Jean-Baptiste
Colbert) que assentava na produção manufactureira.
[ii] Burra
foi um forma antiga de designar baú ou arca usada para guardar valores, que por
extensão originou a forma popular de designar o acto de enriquecer como “encher
as burras”.
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