Quem já
esqueceu que este foi o nome atribuído à campanha militar norte-americana
contra um Iraque acusado de possuir um perigoso arsenal químico e que lançou o Médio
Oriente em mais uma onda de desestabilização político-militar?
Embora esta
seja também a designação duma doutrina militar (de origem norte-americana)
datada de meados dos anos 90 do século passado, podemos remontar a sua origem
décadas atrás e a circunstâncias tão diversas quanto o golpe militar chileno de
Augusto Pinochet, em 1973, a Guerra das Malvinas, em 1982, ou à queda do Muro
de Berlin, em 1989, eventos que foram aproveitados para o ensaio de uma verdadeira
guerrilha psicológica e social visando a aplicação de agendas anti-sociais.
Mais tarde outros eventos, como os atentados de 11 de setembro de 2001, o
tsunami indonésio em 2004 ou o furação Katrina, que em 2005 varreu New Orleans,
também terão sido explorados com o mesmo objectivo pelas correntes
neoconservadoreas e neoliberais, amplamente suportadas nas teorias económicas
monetaristas de Milton Friedman e da Escola de Chicago (ensaiadas pela primeira
vez no Chile em 1973) e mais tarde consubstanciadas num conjunto de medidas – composto
por dez regras básicas: Disciplina fiscal; Redução dos gastos públicos; Reforma
tributária; Livre formação das Taxas de Juro e de Câmbios; Abolição das
barreiras comerciais (pautas aduaneiras); Eliminação de restricções ao Investimento
estrangeiro directo; Privatização das empresas públicas; Desregulamentação (suavização
da legislação económica e da regulamentação do trabalho); Direito à propriedade
intelectual, formuladas em Novembro de 1989 por economistas do FMI, do Banco
Mundial e do Departamento do Tesouro dos EUA, fundamentadas num texto do
economista John Williamson, do International Institute for Economy – transformadas
depois na política oficial do Fundo Monetário Internacional, quando passou a
ser “receitado” para promover o “ajustamento macroeconómico” dos países em
desenvolvimento sujeitos ao auxílio daquele Fundo e que ficou conhecido como o
Consenso de Washington.
Vem tudo isto
a propósito do recente anúncio pela Administração Trump (a mesma que ameaçou a
Coreia Norte com o “Fogo e a Fúria” em represália pela continuação do seu
programa nuclear) da aplicação de tarifas às importações de alumínio e aço. Com
o espalhafato que lhe é habitual (e com ampla cobertura das cadeias de
televisão) o actual inquilino da Casa Branca espalhou o pânico entre os seus
principais parceiros económicos – México, Canadá e UE – para mais tarde
anunciar que afinal as tarifas seriam aplicadas apenas à China.
Se para já
Trump parece ter optado por centrar o foco no principal adversário da hegemonia
norte-americana, a ameaça geral continua em aberto e essa tem sido precisamente
a metedologia mais usada para impor agendas e objectivos espúrios, um pouco por
todo o lado. Aquilo a que assistimos na UE desde o deflagrar da chamada crise
das dívidas denominadas em euros, com a imposição de políticas de austeridade
em tudo contrárias ao anunciado objectivo da redução da dívida mas fortemente
aceleradoras do processo de concentração da riqueza, insere-se perfeitamente no
contexto do uso de estratégias de choque para a imposição de políticas
impopulares e até anti-democráticas. Que o digam os povos da Irlanda, Espanha,
Grécia, Portugal e Chipre, sujeitos a processos de reduções salariais e das
despesas em programas de âmbito social (na saúde, na educação e na segurança
social), de liberalização das leis de protecção social e do trabalho, a par com
programas de privatização de serviços básicos e essenciais (como a distribuição
energética, infraestruturas portuárias e os serviços postais), que de pouco ou
nada serviram salvo para degradarem as condições de vida da maioria da
população.
As notícias
que vão surgindo sobre o Brexit, a situação política e económica italiana, a
crescente tensão com os estados europeus do Grupo de Visegrad (Hungria,
Polónia, República Checa e Eslováquia) e a própria situação na Grécia e em
Chipre, poderão facilmente constituir os próximos “choques” a utilizar contra
os povos europeus... e se estes falharem haverá sempre o eterno fantasma dos
“terrorismos” ou do perigo russo (alimentado agora com as reacções à tentativa
de homicídio do agente duplo Sergei Skripal, baseadas como sucedeu em 2001 no
caso do Iraque, mais em suposições que em provas factuais), porque os
resultados até agora alcançados deixam antever que esta continuará a ser a
estratégia privilegiada para a prossecução e consolidação dos objectivos da
agenda neoliberal, nesta fase em que a organização de produção capitalista
esgotou as hipóteses de crescimento natural da produção (as reservas naturais e
a capacidade de produção de matérias-primas são finitas o que implica uma
estagnação na formação e crescimento dos lucros) e só consegue manter o
crescimento dos lucros de forma artificial, seja através de modelos meramente
especulativas (a tão falada economia de casino assente na variação artifical do
valor dos activos) ou da comercialização de activos financeiros completamente
desligados da esfera produtiva, mediante puros artifícios
contabilístico-financeiros.
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