Em recente entrevista
ao EXPRESSO, João Ferreira do Amaral volta a abordar a questão de
integrarmos ou não a moeda única.
Reconhecido crítico à adesão
portuguesa ao Euro, assaca à moeda única – cuja criação considera extemporânea e
a quem critica por considerá-la como mecanismo de natureza política orientado
para a criação dum super Estado europeu, que desprovido desse suporte e dum
sistema fiscal comum originou entraves ao normal funcionamento das diferentes
economias nacionais – grande parte da responsabilidade pelo fraco crescimento
que a economia nacional registou nos últimos vinte anos e não antevê melhorias
para os próximos vinte.
Entendendo e concordando em parte
com a análise que ao longo do tempo tem feito sobre a matéria, mas não podendo
deixar de reconhecer as enormes vantagens (económicas e políticas) da moeda
única, prefiro destacar a parte daquela entrevista onde afirma que «[p]ara um país da moeda única se financiar está
todos os dias a olhar para o que as agências de rating dizem. Não é o caso do
momento actual, porque as taxas de juro estão muito baixas. Mas, a prazo é
inaceitável, significa um completo condicionamento. Isto acontece porque a
única fonte que um país do euro tem hoje para se financiar é o acesso aos
mercados financeiros, como uma entidade ou empresa qualquer. Nem sempre foi
assim. Quando os países dispõem de emissão monetária própria, podem dosear com
a utilização de financiamento monetário em situações de dificuldade», da
qual se infere que talvez o problema não resida no Euro (ou no conceito de
existência duma moeda única europeia, veículo facilitador de trocas entre os
estados-membros que por via da sua importância no mercado internacional pudesse
até funcionar como meio internacional de pagamento concorrente do dólar
norte-americano) mas no erro conceptual que atirou os estados europeus para uma
condição de dependência do sistema financeiro global.
É esta situação sui generis que tem que ser resolvida no
âmbito da União Europeia e da Zona Euro.
Desde os primórdios da chamada
crise das dívidas denominadas em euros (questão que não estando resolvida
voltará, mais tarde ou mais cedo, a assombrar-nos) que se têm ouvido vozes a
alertar para a necessidade de alterar os fundamentos da moeda única, mediante:
•
Recuperação do controlo público da emissão de
moeda;
• Conversão do BCE em financiador de primeira
instância da dívida pública dos Estados-membros;
• Financiamento dos Estados-membros a taxas inferiores
às da banca europeia, incluindo o financiamento automático de parte do défice
público, por exemplo os 60% do PIB previstos no Tratado Orçamental;
•
Harmonização fiscal no interior da Zona Euro;
passos tão indispensáveis então quanto
agora e que constituem clara divergência relativamente aos que, não sei se por simples
reflexo patriótico (não confundir com o populismo nacionalista, dito patriótico
e de pendor xenófobo), mero pavor da ideia do controlo público (tão caro às
correntes neoliberais) ou por dificuldade em expressarem uma clara oposição ao
todo poderoso sistema financeiro global, defendem o puro e simples regresso às
várias moedas europeias, no que isso representará de regresso a políticas
autárcicas e isolacionistas, numa época onde já abundam os apelos
isolacionistas e as propostas de construção de muros.
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