terça-feira, 7 de novembro de 2017

PARADISE PAPERS

A propósito da recente divulgação de mais um “caso” envolvendo a actividade ilegal dos chamados paraísos fiscais e da escaldante notícia onde «Nova fuga de informação expõe rainha de Inglaterra», eis que quando questionado sobre o assunto o líder trabalhista inglês (na oposição) Jeremy «Corbyn sugere pedido de desculpas de Isabel II sobre bens offshore», no que parecendo uma clara condenação dos ilícitos fica muito aquém do mínimo a esperar de qualquer líder político que preze a defesa do interesse-geral em detrimento dos interesses individuais.


A verdadeira dimensão seria dada pela afirmação de que à rainha (enquanto autoridade nacional máxima) deveria ser exigida uma reparação pela ilicitude e uma veemente actuação no sentido de a transformar em algo de irrepetível por qualquer dos seus súbditos.
Dir-me-ão que deliro ou que espero o impensável!

Poderá ser, mas a evasão fiscal não constitui apenas um crime contra aqueles que pagam os seus impostos, é um privilégio apenas alcançável pela mesmíssima elite que há décadas se escuda no argumento da legalidade enquanto vem sendo beneficiada pelo dogma que defende a concentração da riqueza como via para melhorar a sua distribuição; vulgarmente conhecida como “trickle down economics”, defende o princípio de que a concentração de riqueza nos grupos com maiores rendimentos, por exemplo por via fiscal, favorecerá o investimento em virtude da sua menor propensão marginal ao consumo e tem sido seguida pelo menos desde a década de 1980, com os resultados que todos temos podido observar na prática: uma crescente concentração da riqueza global num número cada vez menor de agentes económicos e um agravento da desigualdade em geral.

Comprovando que assim é, assistimos à cíclica revelação destes “negócios” sem que os poderes estabelecidos actuem de forma diversa desta, onde «Bruxelas espera que Estados-membros redobrem esforços no combate à fuga e a evasão fiscal», enquanto convenientemente se exime a qualquer medida prática que a tal conduza, num silêncio e numa inércia hipócrita e totalmente inversa à sanha fundamentalista que revelou na tentativa de debelar a crise do euro.

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