A propósito da
recente divulgação de mais um “caso” envolvendo a actividade ilegal dos
chamados paraísos fiscais e da escaldante notícia onde «Nova
fuga de informação expõe rainha de Inglaterra», eis que quando questionado
sobre o assunto o líder trabalhista inglês (na oposição) Jeremy «Corbyn
sugere pedido de desculpas de Isabel II sobre bens offshore»,
no que parecendo uma clara condenação dos ilícitos fica muito aquém do mínimo a
esperar de qualquer líder político que preze a defesa do interesse-geral em
detrimento dos interesses individuais.
A verdadeira
dimensão seria dada pela afirmação de que à rainha (enquanto autoridade
nacional máxima) deveria ser exigida uma reparação pela ilicitude e uma
veemente actuação no sentido de a transformar em algo de irrepetível por
qualquer dos seus súbditos.
Dir-me-ão que
deliro ou que espero o impensável!
Poderá ser,
mas a evasão fiscal não constitui apenas um crime contra aqueles que pagam os
seus impostos, é um privilégio apenas alcançável pela mesmíssima elite que há
décadas se escuda no argumento da legalidade enquanto vem sendo beneficiada pelo
dogma que defende a concentração da riqueza como via para melhorar a sua distribuição;
vulgarmente conhecida como “trickle down economics”, defende o princípio de que
a concentração de riqueza nos grupos com maiores rendimentos, por exemplo por via
fiscal, favorecerá o investimento em virtude da sua menor propensão marginal ao
consumo e tem sido seguida pelo menos desde a década de 1980, com os resultados
que todos temos podido observar na prática: uma crescente concentração da
riqueza global num número cada vez menor de agentes económicos e um agravento
da desigualdade em geral.
Comprovando
que assim é, assistimos à cíclica revelação destes “negócios” sem que os
poderes estabelecidos actuem de forma diversa desta, onde «Bruxelas
espera que Estados-membros redobrem esforços no combate à fuga e a evasão
fiscal», enquanto convenientemente se exime a qualquer medida prática que a
tal conduza, num silêncio e numa inércia hipócrita e totalmente inversa à sanha
fundamentalista que revelou na tentativa de debelar a crise do euro.
Sem comentários:
Enviar um comentário