quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

NOVO BANCO, PROBLEMAS VELHOS

A recente notícia de que o «Banco de Portugal escolhe Lone Star para negociar venda do Novo Banco» por um valor da ordem dos 750 milhões de euros, não terá estalado como uma bomba porque já estamos demasiado habituados a ver contrariadas as melhores previsões sobre o sector financeiro, mas justifica plenamente, como o fez Nicolau Santos em «Novo Banco: o brutal falhanço do Banco de Portugal» «...concluir‑se que o Banco de Portugal não sabe vender bancos. E que Carlos Costa é o pior governador que passou pelo banco central – apesar de continuar a atirar as culpas para cima de outros.»


Recorde-se que quando o Banco de Portugal anunciou a resolução do BES, no início de Agosto de 2014, e o Fundo de Resolução e o Governo PSD/CDS injectaram quase 5 mil milhões de euros na parte sadia do banco que a família Espírito Santo e Ricardo Salgado tinham dirigido, já se questionava se o «Novo Banco vale 4,4 mil milhões de euros?» Dois ou três meses depois o próprio «Carlos Costa admite perdas na venda do Novo Banco» e na primeira tentativa de venda, em Abril de 2015, as «Propostas ficam todas abaixo dos 4,9 mil milhões», para em Agosto já se dizer abertamente que a «Resolução do BES "pode custar muitos milhões aos contribuintes"».

Em finais de 2015 e depois de recusadas propostas de compra do Santander e do BPI, entre os 2 e os 2,8 mil milhões de euros, o Banco de Portugal resolveu contratar um ex-secretário de Estado do Governo PSD/CDS, Sérgio Monteiro, com um contrato de 12 meses e mediante uns parcos 300 e tal mil euros, para gerir adequadamente o dossier; com o contrato já prorrogado e os custos a rondarem o meio milhão de euros, eis que tudo o que o “especialista” conseguiu foi uma oferta de 750 milhões de euros, por um banco com um valor patrimonial declarado de quase mais 6 mil milhões de euros, e ainda a associação duma garantia pública de 2,5 mil milhões de euros, para prevenir qualquer eventualidade...

E, na linha do que o principal responsável pelo nebuloso negócio de privatização da TAP nos habituou, tudo o que conseguiu foi uma proposta apresentada por um fundo de private equity (fundo que habitualmente se designa de “fundo abutre”, por se especializar na aquisição de empresas com grande património imobiliário a preços muito reduzidos, que rapidamente desmembra para vender os imóveis), e que ainda exige contra-garantias públicas de 2,5 mil milhões de euros, que se traduzirão num garantido agravamento de mais 2 mil milhões de euros aos prejuízos já acumulados.

Que adiantam agora declarações de que o «"Processo foi um fiasco" e propostas são "vexatórias"», salvo alguma irrisória pressão sobre os compradores?

Claro que «Perdas que nem Estado nem compradores querem assumir dificultam venda do Novo Banco», mas explicações sobre uma tão rápida erosão de valor do Novo Banco, nem vê-las! O que se vislumbra serão «Seis desfechos para o Novo Banco e nenhum é bom», pois desde: 1) o Estado dar a garantia exigida pelo Lone Star e o Fundo de Resolução arriscar vender o Novo Banco com prejuízo; 2) não dar a garantia, eliminando os riscos mas dificultando a venda; 3) nacionalizar o Novo Banco e ficar com este e a CGD; 4) deixar a CGD (quejá tem a maior fatia de investimento no Fundo de resolução) comprar e absorver o Novo Banco; 5) prolongar a situação de transição do Novo Banco na expectativa de o vir a vender por um preço mais adequado; 6) optar pela liquidação do Novo Banco e procurar vendê-lo por partes; o que temos de seguro é que vender o terceiro banco do país ao Lone Star ou a qualquer outro equity fund, cujo negócio é a dívida e a destruição de empresas para a sua venda a curto prazo, traduzir-se-á, com ou sem garantias adicionais, na destruição de valor e no agravamento dos prejuízos públicos. Da nacionalização, com integração ou não na CGD, resultarão dificuldades adicionais com a UE e previsíveis novas necessidades de capital, o mesmo sucedendo com o prolongamento da situação (na realidade uma nacionalização temporária); a liquidação ordenada poderá permitir a integração das actividades mais importantes e rentáveis noutras instituições financeiras e alguma minimização dos efeitos perniciosos duma venda apressada e sem outro fito que o lucro imediato.

Em resumo, bem se pode dizer que vender ou «Nacionalizar o Novo Banco: como e quanto custa? Ninguém sabe», mas era importante que uma questão desta natureza e dimensão fosse respondida com melhor informação e quantificação de cada uma das alternativas, sem dogmatismos nem histerismos pseudo-ideológicos.

Sem comentários: