Com o anúncio
de que o «BCE
aprova administração de António Domingues», parecia concluído a saga que há
vários meses envolve o processo de substituição da administração da CGD
liderada por José de Matos.
Sucede porém
que ao confirmar-se que o «BCE
dá luz verde a nomes da CGD, mas chumba poderes do novo presidente» ou que
o «BCE
obriga novos administradores da CGD a irem à escola... e têm de passar»,
avolumam-se as dúvidas sobre a efectiva capacidade dos novos gestores para
levarem a cabo uma tarefa difícil desde o início e agravada ainda com uma
apresentação de resultados onde uma «CGD
com prejuízos de 205 milhões no semestre» parece não conseguir inverter os maus
resultados.
Quando o «BCE aprova 11
administradores mas chumba outros oito» pode não significar apenas uma
questão de incompatibilidades – a habitual prática de acumulação de cargos de
administração – mas também uma questão de adequação, que o anúncio de que o «Governo
vai rever lei bancária para recuperar nomes chumbados na CGD» não augura
nada de bom, tanto mais que já é sabido que um dos parceiros de coligação, o «BE
defende lei que “limite e discipline” número de cargos acumulados».
Claro que a
nomeação desta equipa gestora, como a das anteriores, tem estado envolvida em
polémicas várias, que vão desde a evidente preponderância de gestores
originários do concorrente BPI – que levou o NEGÓCIOS a escrever que o economista
«Eugénio
Rosa teme “OPA de grupos económicos” sobre gestão da CGD» – até à dimensão
da equipa: 19 nomes entre administradores executivos e não executivos. Tudo
isto quando continuam a impor-se restrições de gastos com pessoal, se fala na
redução de mais 2.500 trabalhadores e quando a
nova equipa fez depender a sua participação do levantamento dos limites às respectivas
remunerações, enquanto os trabalhadores continuam a ver-se iludidos com a
promessa de recuperarem os que lhes foram cortados.
Este não é
apenas um mau sinal transmitido para toda a estrutura duma empresa que é não só
o maior banco nacional, mas o principal financiador da actividade económica,
incluindo as sempre tão referidas PME. Muitas vezes esquecido (e
intencionalmente) é o facto da CGD continuar a ser o principal financiador da
economia portuguesa (mais de 71 mil milhões de euros em 2015) tendo até
aumentado o crédito às PME, do mesmo modo que as muito referidas imparidades (quase
5,3 mil milhões de euros entre 2008 e 2015) não chegam a representar 7% do
crédito concedido quando os concorrentes BCP e BES/Novo Banco apresentam rácios
de 11,2% e 8,9%, para o mesmo período.
A juntar a
todo o imbróglio da substituição da administração (processo sempre controverso
na caso da CGD e maior ainda quando no caso vertente parece chamar-se uma
equipa do BPI para assegurar a gestão do banco público e que já originou que um
«Sindicato
acusa nomes para CGD de "bom serviço prestado aos interesses do
capital"»), registou-se ainda a famigerada tirada do Ministro das
Finanças quando referiu a existência dum “desvio”, termo que na gíria
financeira (que ele bem conhece ou não fosse um ex-quadro do Banco de Portugal)
significa um “buraco” nas contas, na abordagem da questão da necessária
recapitalização da CGD e o arrastar da decisão agora conhecida do BCE.
Assim, em
plena “silly season” gastamos tempo e
energias a discutir a composição da equipa de administradores e o cumprimento
de decisões do BCE que raiam o insultuoso para alguns dos candidatos
propostos, em lugar de estarmos a debater o que realmente era importante para o
futuro da CGD e do país: qual o papel que pretendemos para o banco público e
com que meios – montante e forma de realização dum aumento de capital
obrigatório face a alguns dos negócios ruinosos promovidos ou patrocinados por
anteriores administrações, como foram o caso dos empréstimos à UGT, decidido
por administração liderada por João Salgueiro, dos financiamento para compra de
acções do BCP por parte de alguns dos seus principais accionistas (Joe Berardo,
Moniz da Maia, Manuel Fino e Teixeira Duarte, entre outros), garantidas pelo
valor das próprias acções, a integração do BNU em condições altamente
desfavoráveis para a CGD, o processo de internacionalização levado a cabo no
Brasil e em Espanha, a nacionalização do BPN e o posterior financiamento de 4,1
mil milhões de euros que continua por pagar, a alienação de participações
financeiras em condições altamente desfavoráveis decidida pelo governo de
Passos Coelho, além doutras operações que em 2015 ascenderiam a mais de 2,3 mil
milhões de euros em risco de não pagamento, dos quais o principal devedor é uma
empresa do grupo espanhol La Seda (onde a CGD deteve quase 15% do capital) com
476 milhões de euros, António Mosquito/Soares da Costa (338 milhões de euros), a
EFACEC, com um crédito de 303 milhões de euros, Vale de Lobo (cerca de 300
milhões de euros), Auto-Estradas Douro Litoral (271 milhões de euros), Grupo
Espírito Santo (237 milhões de euros) e o Grupo Lena (225 milhões de euros), entre
outros que compõem a actual lista de imparidades superiores a mil milhões de
euros – o queremos dotar!
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