quarta-feira, 4 de abril de 2012

PÓDIOS…


Conhecida a notícia de que o «Desemprego sobe há sete meses e já está nos 15%», parecem cada vez mais reduzidas as hipóteses de sucesso da tese da “austeridade expansionista” introduzida pelo governo de Passos Coelho, decalcada das políticas de pendor neoliberal destinadas a combater a crise provocada na Zona Euro e sustentadas nos primados da redução dos gastos públicos, da desregulamentação e da liberalização dos mercados, mas que não têm parado de agravar os indicadores macroeconómicos, ainda que um ou outro dos de natureza especificamente económica apresentem resultados mais positivos; é assim que a generalidade dos cidadãos do sul da Europa continuam a ser mimoseados com taxas crescentes de desemprego e com expectativas de redução do PIB, apesar dum ou outro até revelar crescimento naquele que é o grande objectivo dos defensores do modelo: as exportações. 


Há semelhança de quem o governa e perfeitamente imbuído do papel subserviente de “bom aluno”, o pobre Zé Povinho até pode lamentar o facto de apenas ocupar o lugar mais baixo do pódio do desemprego, mas o que o deveria efectivamente preocupá-lo (e em especial aos responsáveis pela governação) é a completa ausência de perspectivas de melhoria, fácil de concluir a partir de afirmações como a de que «Bruxelas diz que contas regionais e desemprego são “riscos importantes”» e simultaneamente a «Comissão Europeia pede mais reformas no mercado laboral».

Estas são, aliás, um claro reflexo das contradições do modelo baseado no Consenso de Washington que o FMI tem procurado impor pelo mundo fora e que ao longo das últimas três décadas nunca apresentou resultados positivos em qualquer das latitudes onde foi ensaiado. Sempre que os primeiros resultados se revelavam aquém do esperado a solução dos especialistas do FMI (e dos seus apoiantes locais) foi a de declararem a superioridade da teoria sobre o resultado prático e de pugnarem pela ampliação e aprofundamento das medidas. À semelhança dos antigos físicos medievais, para os quais a sangria do paciente constituía a panaceia para todos os males, manietados pelo dogma da sua superior sabedoria “sangrarão” os doentes até à morte se estes não se revoltarem a tempo de o evitar.

É que ao contrário do que pretendem, a solução para o sobreendividamento nunca poderá ser encontrada no acréscimo do endividamento (afinal os “pacotes” de auxílio financeiro “negociados” com a Grécia, a Irlanda e Portugal não constituem mais que um aumento do endividamento) e na destruição dos débeis tecidos produtivos nacionais mas sim construída a partir dum processo organizado de reestruturação da dívida, começando por dela expurgar tudo o que prefigure formas abusivas de criação de dívida, continuado por uma reformulação dum modelo de financiamento público que não continue sustentado num sistema financeiro que cresce com os ganhos originados nos crescentes diferenciais entre as taxas da dívida pública e as taxas a que se financia junto do banco central e concluído por um Estado que se reja pelo princípio do interesse geral e não pelo do benefício dos detentores do capital, que é precisamente o contrário do que os governos têm praticado em Portugal e que a própria Comissão Europeia denuncia no último relatório sobre a implementação do programa de ajuda externa e que o PUBLICO sintetizou na notícia «Bruxelas diz que estratégia do Governo sobre rendas às eléctricas é pouco claro».

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