Haverá melhor imagem do
actual estado das coisas em Portugal que a notícia de que a Associação
25 de Abril não participará pela primeira vez nas celebrações oficiais?
A associação A25A,
fundada pelos militares directamente envolvidos, congrega hoje todos (militares
e civis) os que se revejam no espírito do movimento libertador de 25 de Abril de 1974, pelo
que aquela decisão constitui um claro sinal do mal-estar que grassa no país.
Segundo estoutra notícia
do PUBLICO o manifesto apresentado pela direcção da A25A justifica a
decisão «…por considerar que “o contrato social estabelecido
na Constituição da República Portuguesa foi rompido pelo poder”», porque «[a]s medidas e sacrifícios impostos aos
cidadãos portugueses ultrapassaram os limites do suportável. Condições
inaceitáveis de segurança e bem-estar social atingem a dignidade da pessoa
humana…» e concluindo que «…o rumo
político seguido protege os privilégios, agrava a pobreza e a exclusão social,
desvaloriza o trabalho».
A polémica decisão foi
formalmente anunciada pelo presidente da A25A, o coronel Vasco Lourenço, e
embora não isenta doutras leituras pode bem ser entendida como uma contestação
frontal à linha política do governo de Passos Coelho que classificou como configurando «…um outro ciclo político que está contra o 25
de Abril, os seus ideais e os seus valores», a ponto do EXPRESSO
a interpretar como uma referência a que o poder não reflecte o regime
democrático.
Quando a este gesto se
seguiu o igualmente inédito anúncio de que também o ex-presidente Mário «Soares
não vai à sessão oficial do 25 de Abril», confirmada pela notícia de que «Soares e
Alegre apoiam Capitães e não vão à AR», a decisão da A25A ganhou novos e
maiores contornos de contestação; do que num primeiro momento poderia ser
entendido como uma reacção às políticas de cortes salariais nas Forças Armadas
(algo que nem sequer constituiria verdadeira novidade no caso dos “velhos
capitães de Abril”, cujo movimento nasceu de meras reivindicações de classe)
eis que a solidariedade manifestada por Soares e Alegre lhe confere (queira-se
ou não) uma maior dimensão política e um claro sintoma de contestação aberta às
políticas seguidas pelo governo de Passos Coelho.
Na habitual linha de actuação do politicamente correcto não se estranha que «Marcelo Rebelo de Sousa não compreende ausências» enquanto assegura que a «democracia é que perde com as ausências nas comemorações do 25 de Abril», nem que o ex-comissário europeu António Vitorino (como refere a mesma notícia do EXPRESSO) tenha prontamente apelado à “convergência”, como se o direito à expressão da indignação e da contestação fosse algo de absurdo ou reprovável num regime que se afirma democrático.
Mais curiosa ainda é a
reacção de Passos Coelho, que na sequência doutras declarações de membros do
seu governo (como a fantástica afirmação produzida em Washington por Vítor
Gaspar assegurando que estão os «Portugueses
disponíveis para sacrifícios») reagiu desvalorizando a mensagem de evidente
crítica política e dizendo-se «habituado a que
figuras políticas queiram assumir protagonismo», como se o que estivesse em
causa fosse um lugar na primeira fila da fotografia de família.
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