terça-feira, 10 de abril de 2012

PIEDOSO FMI?


Depois de na passada semana ter rebentado mais uma polémica despoletada por declarações dum funcionário da UE sobre a irreversibilidade das reduções salariais na Função Pública, decretadas pelo governo Passos Coelho/Paulo Portas, e da cada vez mais evidente desadequação das chamadas políticas de austeridade, eis que o FMI publica na mais recente edição do seu “World Economic Outlook” que o «Endividamento das famílias prolonga e agrava recessão e pode prejudicar retoma», aconselhando a criação de programas de restruturação das dívidas das famílias.


Na prática, enquanto o governo português insiste numa terapia de empobrecimento regenerador (o que quer que seja que tal significa) e não hesita perante a mais ténue das hipóteses de “sangrar” financeiramente os assalariados, os pensionistas e os pequenos empresários, é o próprio paladino do Consenso de Washington[1] que alerta para a necessidade de não matar o doente pela cura.

Mas atenção, o alerta do FMI não resulta de nenhuma súbita inversão de valores ou prioridades, pois a principal razão para a proposta continua a ser a preocupação com a solvência dum sector financeiro excessivamente exposto ao risco do segmento de crédito às famílias, agora agravado pelas elevadas taxas de desemprego.


[1] Designação pela qual conhecida é um conjunto de medidas, apresentadas em 1989 por John Williamson e que se tornaram na política oficial do FMI e do Banco Mundial com vista ao ajustamento macroeconómico dos países onde estes actuam. De forte pendor neoliberal, as medidas implicam: disciplina fiscal, redução dos gastos públicos, reforma tributária, taxas de juro e de câmbio ditadas pelo mercado, liberalização do comércio e do investimento estrangeiro directo, privatizações, desregulamentação e direito à propriedade intelectual.

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