terça-feira, 5 de outubro de 2010

A PROPÓSITO DO CENTENÁRIO DA REPÚBLICA


A comemoração do 1º Centenário da República Portuguesa, mais que uma oportunidade para relembrar factos e figuras, para sustentar debates sobre as virtualidades dos regimes monárquicos e republicanos ou propostas de alterações constitucionais, devia ter constituído uma oportunidade para a recuperação dos principais valores republicanos.

Mesmo quando todos sabemos que nos últimos anos se têm procurado inculcar nas populações valores bem diversos dos da ética republicana, que vai muito além do simples mote da «Liberdade, Igualdade, Fraternidade» e que a ética política não é, como pretende José Pacheco Pereira neste “post” do ABRUPTO, algo de dissociável de um regime político que se pretende menos centrado nas “castas” dos poderosos.

É evidente que o conceito de ética não é, nem pode, ser um exclusivo republicano – a monarquia, até a mais absolutista delas, também tem a sua ética – , mas pode e deve ser defendido o princípio de uma maioria respeitadora das minorias ou, talvez numa expressão mais clara: o inalienável direito individual termina onde começam os direitos dos outros.

As torpezas praticadas pelas gerações políticas mais recentes que, por ausência de cultura ou vazio de valores e ideias, se têm prestado a dilapidar lenta mas sistematicamente conceitos como o da solidariedade e o da sobrelevância do interesse geral ao particular, que por desconhecimento ou incapacidade, ora alienam ora cerceiam as vontades e as capacidades de mobilização dos cidadãos mais incautos, não podem constituir desculpa para deixar passar esta data sem uma referência mínima.

Lembrar as figuras que deram voz e rosto à I República...


recordar até a esterilidade de muitas das suas querelas e questiúnculas, aprender com os seus erros e nunca esquecer que para o melhor e o pior foi essa geração que criou os primeiros alicerces de um sistema de educação nacional, é obrigação de todos nós, da mesma forma que, numa fase tão delicada da vida nacional como a que atravessamos, lembrar que a origem da sua implosão terá radicado no sistema bipartidário que criaram e no facto de ao limitarem o fluir de ideias e de alternativas terem criado a oportunidade e as condições para a germinação de mitos populistas e autoritários como solução.

Haveria melhor forma de homenagear os Homens que entre 3 e 4 de Outubro de 1910 saíram à rua para lutarem pelas suas convicções, que batermo-nos, hoje, por ideias diferentes das que nos têm inculcado? e pelo direito à sua divulgação?

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