quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

VOLTAVA A FAZER O MESMO

Depois de divulgadas as principais declarações que Tony Blair proferiu durante a audição promovida pela Comissão de Inquérito sobre o Iraque e na linha das que proferiu em meados de Dezembro último em entrevista à BBC ONE[1], constituída por iniciativa do governo de Gordon Brown e dirigida por John Chilcot, o interesse nas conclusões a apresentar pela Comissão deverá ser mínimo.

Se à partida ninguém esperava que mais uma comissão de inquérito[2] relacionada com a participação britânica na invasão do Iraque apresentasse conclusões bombásticas, ou sequer desagradáveis para os poderes estabelecidos, talvez poucos esperassem que o ex-primeiro-ministro Tony Blair se apresentasse perante a Comissão numa atitude de quase desafio e reiterasse sem o mínimo rebuço a decisão que estão tomara.

Nem mesmo o facto deste ter alterado a fundamentação para a acção bélica – reconhecida a inexistência de capacidade militar ofensiva do regime iraquiano, Blair e o “amigo” Bush passaram a afirmar que a destituição de Saddam era razão suficiente para a decisão que tomaram – parece estar a assumir as proporções públicas que devia.

É obviamente impensável que qualquer comissão oficial de inquérito, seja ela promovida por ingleses ou americanos, alguma vez produzirá conclusões contrárias aos interesses dos seus comanditários, mas os cidadãos têm o pleno direito de exigir melhor informação sobre questões da gravidade de uma invasão do Iraque que além dos milhares de mortos (os mais de 5.000 soldados da coligação, os cerca de 10.000 soldados iraquianos e os mais de 95.000 de civis[3]), dos milhões de deslocados, está a custar ao Mundo biliões de dólares[4], numa época em que as economias se apresentam particularmente depauperadas.

Mas, mais grave ainda que termos assistido a um ex-governante que justifica a terrível decisão de envolver o país que dirige e o seu povo numa agressão militar e que a justifica à luz da informação que conhecia na altura, é vermos passar quase incólume o político que defendeu uma guerra sob falsos pretextos e que hoje assegura que apesar disso voltaria a tomar a mesma decisão.

Tony Blair não mentiu aos ingleses e ao Mundo apenas em 2002, continua a mentir hoje em dia e com o mesmo despudor, quando afirma que o Mundo está melhor após o derrube de Saddam e que o digam as famílias dos soldados (de qualquer nacionalidade) mortos e os milhões de iraquianos desalojados por uma guerra que apenas terá servido os interesses ligados ao sector industrial-militar.
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[1] Ver, a propósito o “post”: «BLAIR, O SICOFANTA».
[2] Anteriormente a esta já existiram duas outras (a Comissão Hutton, instaurada para averiguaras circunstâncias que rodearam a morte do Dr. David Kelly, um especialista em armas químicas e reputado crítico da ideia de que Saddam Hussein dispunha daquele tipo de armamento, e a Comissão Butler, instaurada para aferir a qualidade da informação – a existência de armas de destruição em massa pelo regime iraquiano – que fundamentou a decisão da invasão daquele país) tendo ambas concluído favoravelmente aos interesses do governo que as nomeou.
[3] As fontes desta informação podem ser consultadas nas páginas Net de ICASUALTIES e de IRAQ BODY COUNT.
[4] Estimativas há que apontam para um gasto mensal da ordem dos 600 mil milhões de dólares, o que poderá elevar o total a um valor próximo dos 2,5 biliões de dólares.

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