quarta-feira, 10 de junho de 2009

CONFRANGEDOR

Perante o cenário geral das eleições europeias que outro comentário se poderá fazer?

Nem os velhos políticos da velha Europa tentaram melhorar o seu aspecto, nem esta parece despertar especiais atenções entre os eleitores.

Independente das forças nacionais (ou das grandes famílias europeias em que se agregam) o resultado destas eleições é apenas um: a abstenção não tem parado de aumentar e isso nem se quer parece preocupar os políticos.

O sucesso das forças de centro-direita terá assegurado ao presidente da Comissão em exercício, o inefável Durão Barroso, maiores hipóteses de reeleição para um segundo mandato[1], pelo que o seu comentário de que «...os resultados são uma inegável vitória dos partidos e dos candidatos que apoiam o projecto europeu e que querem ver a União Europeia a produzir respostas às suas preocupações quotidianas...» deixa transparecer o contentamento (natural) enquanto reflecte a medonha hipocrisia de afirmar que a EU, que tem dirigido nos últimos anos, tem respondido aos anseios e às necessidades das populações que devia servir.

A atestar pelas elevadas taxas de abstenção, o “make-up” que tem vindo a ser aplicado à Europa continua longe de atrair os “admiradores” e, pior, parece mesmo estar a afastá-los, pois desde 1979 que aquela taxa não tem parado de subir[2].

No caso português, não só a taxa de abstenção registada no dia 7 foi uma das maiores de sempre como se situa francamente acima da média europeia (63% em Portugal contra 57% no conjunto da UE) e entre as maiores dos 27 estados-membros. Para piorar este cenário e dar uma imagem mais adequada da qualidade e da representatividade do acto eleitoral que no passado fim-de-semana teve lugar entre nós, veja-se que a percentagem de votos brancos (4,6%) é suficiente para “eleger” um deputado[3]; os eleitores portugueses além de não se darem ao incómodo de se deslocarem para votar, quando o fazem ainda demonstram um assinalável repúdio aos candidatos a sufrágio, tão grande que um dos lugares deveria ficar por ocupar.


Por tudo isto, os “cartoons” do holandês Joep Bertrams transmitem uma muito real imagem da farsa e do medonho fracasso em que se transformou o processo de funcionamento e governação da UE.

A indiferença dos eleitores não pode ser explicada apenas pela menor proximidade e pelo menor conhecimento do funcionamento do Parlamento Europeu, tem que ser procurada noutras razões; destas parece-me de salientar a evidente sobranceria dos políticos que persistem em querer fazer avançar um processo de profundas reformas contra a opinião e o sentimento da generalidade dos cidadãos europeus.

Se a classe política europeia estivesse verdadeiramente interessada na mobilização dos eleitores não teria enjeitado oportunidades de informar e promover verdadeiros debates sobre as perspectivas de futuro para a EU, como a que teve a propósito da aprovação do Tratado de Lisboa. Mas, quando por mera necessidade táctica de sobrevivência optou por se refugiar no argumento de que bastaria a aprovação de cada um dos parlamentos nacionais, agravou ainda mais o sentimento de que na realidade não pretendem mais que perpetuar-se num poder para cuja erosão estão a contribuir decisivamente.
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[1] Mais peremptório ainda foi o EXPRESSO que, logo no dia seguinte afirmava: «Vitória do PPE abre caminho à reeleição de Barroso»
[2] A confirmar esta realidade veja-se que em 1979 a taxa de abstenção foi de 38%, de 41% em 1984, de 42% em 1989, de 43% em 1994; em 1999 atingiu os 50%, os 55% em 2004 e os 57% este ano.
[3] Sobre esta questão da contagem dos votos em branco ver o “post” «PRECISARÁ A DEMOCRACIA OCIDENTAL DE SER REINVENTADA?».

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