domingo, 21 de junho de 2009

SEGUNDO NETANYAHU...

Dez dias após o discurso de Barack Obama também o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, proferiu duma universidade o seu discurso para o Mundo...

Diferenças à parte – o discurso de Obama foi especialmete dirigido ao mundo muçulmano enquanto o de Netanyhu foi particularmente orientado para mundo sionista – ningém poderá negar a importância da réplica israelita, mesmo considerando, como o faz Jeremy Bowen num artigo da BBC News, que Netanyahu pareceu “vomitar” as palavras “Estado Palestiniano”.

Isso mesmo salientou a administração Obama, quando classificou o discurso como um “movimento positivo”1, mesmo que para salientar o seu optimismo tenha esquecido tudo o mais que Netanyahu disse. E foi muito... e muito negativo.

Mesmo que se possa entender que o seu discurso foi especialmente orientado para o interior da coligação partidária que sustenta o governo que lidera2, nem por isso Netanyahu deixou de salientar os pontos que a extrema-direita judaica entende como inegociáveis – o reconhecimento de Israel enquanto estado judaico, a recusa liminar a qualquer hipótese de regresso dos refugiados palestinianos expulsos e a criação de um estado palestiniano desmilitarizado, sem qualquer espécie de controlo sobre o respectivo espaço aéreo e com limitações no campo diplomático – que no essencial tornam quase impraticável qualquer negociação.

Talvez este linguajar lhe grangeie o apoio das facções ultra-conservadoras onde o seu governo se apoia e das quais carece, mas não se pode deixar passar em claro a enorme passividade da reacção norte-americana, tanto mais que Obama reafirmara no seu discurso cairota a necessidade de uma alteração na política israelita em matérias polémicas como a construção e a expansão dos colonatos judaicos em território palestiniano, para agora Netanyahu passar a menssagem que os colonos (judeus) não são “inimigos da paz” enquanto reafirmava o apoio ao “crescimento natural” dos referidos colonatos.

A hipocrisia diplomática não pode explicar todas as reacções ao discurso de Netanyahu e no caso da UE isto é particularmente evidente, pois, como é hábito, além da muito favorável reacção oficial do país que exerce a presidência (a República Checa)3 o ministro dos Negócios Estrangeiros sueco (país que assumirá a presidência no próximo dia 1 de Julho) afirmou que «[o] facto de ter pronunciado a palavra “Estado” é um pequeno passo na boa direcção» mas «[s]aber se o que ele mencionou pode ser definido como um Estado é um assunto a debater»4.

As naturais reacções de repúdio e de crítica por parte dos vários estados árabes e da Autoridade Palestiniana não se fizeram esperar, nem constituíram novidade digna de particular realce.

No esencial fica uma pretensa mensagem de paz da parte israelita, carregada dos habituais argumentos que além de inviabilizarem as negociações as deverão fazer retroceder alguns anos e até podeão constituir novas “munições” num conflito que se arrasta desde meados do século passado. Não que esta situação seja nova ou que alguma vez as populações palestinianas e judaicas tenham estado efectivamente próximo de um acordo durável, ou que os líderes árabes e israelitas tenham revelado um genuíno interesse e empenho nesse objectivo.

Com mais recuos que avanços o processo de solução para o conflito israelo-palestiniano continua à espera de quem oriente um processo negocial suficientemente são para que venha a produzir frutos e, como era esperado, não será seguramente com o governo de Benjamin Netanyahu e de Avigdor Lieberman que ocorrerão passos significativos, tanto mais que um e outro continuam frontalmente empenhados na defesa das mais dogmáticas teses sionistas, como o atesta as declarações proferidas pelo último (ministro dos Negócios Estrangeiros israelita) durante uma conferência de imprensa en Washington5. Perante os jornalistas e Hillary Clinton (a secretária de Estado americano), Libermam não revelou qualquer pejo em declarar a sua oposição frontal à suspensão da política de instalação de colonatos, como cometeu o supremo insulto de designar os territórios palestinianos pelo termo judaico de Judeia-Samaria, o que na prática corresponde a considerá-los como parte do famigaerado projecto da Grande Israel6.

A hipocrisia de judeus e americanos na pretensa busca de um processo de paz para a Palestina parece não ter fim e, a avaliar pelo ocorrido nos últimos dias, não irá certamente deixar de nos supreender em breve com novos episódios.
_________
1Tal como o refere esta notícia da BBC NEWS.
2Sobre a complicada política interna israelita e sobre a coligação que governa o país ver o “post”: «O FIM DA SOLUÇÃO DOS DOIS ESTADOS».
3O DN refere mesmo que a presidência checa considerou o discurso como um "passo na boa direcção".
4A citação das palavras do ministro Carl Bildt foi retirada da notícia do DN referida na nota anterior.
5A fonte foi esta notícia do PUBLICO.
6Sobre a questão do Grande Israel, ver os “posts”: «NÃO PODEMOS IGNORAR...», «APELO À PAZ NO MÉDIO ORIENTE» e «O MÉDIO ORIENTE E OS LOBBIES JUDAICOS».

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