domingo, 9 de setembro de 2007

PALAVRAS LEVA-AS OS VENTO

Quando faltava pouco mais de uma semana para a apresentação do relatório do comandante das tropas americanas no Iraque, David Petraeus, sobre a situação naquele território, eis que no caminho para a reunião da APEC, marcada para a Austrália, George W Bush fez escala numa base aérea em território iraquiano para uma “visita” às tropas.

Segundo noticiaram várias fontes, Bush terá reunido com os comandantes locais (a BBC e o DN dizem mesmo que Bush reuniu um conselho de guerra no Iraque) e com alguns representantes iraquianos, incluindo o primeiro-ministro Nuri Al Maliki.


Mas mais importante que conhecer a lista das personalidades presentes, que incluiu ainda os secretários de estado Condoleezza Rice e Robert Gates, ou ler o discurso às tropas em parada, no qual Bush reafirmou que os EUA estão no caminho para ganhar a guerra e que só sairão do Iraque numa posição de vencedores (outros que o precederam disseram o mesmo a propósito do Vietname), é analisarmos os resultados das análises que vários observadores vão apresentando. Entre estes destaque-se um que foi apresentado pelo Government Accountability Office, organismo de controlo do Congresso norte-americano, que contrariando as conclusões de um relatório da Casa Branca afirma que apenas três dos dezoito indicadores de sucesso foram alcançados.


Quererá isto dizer na prática que uma vez mais a Casa Branca está a persistir numa estratégia de mentira e clara ocultação dos maus resultados da sua política para o Iraque, ou tudo não passará de mais uma questiúncula de natureza política e ordem interna?

Sendo um facto que a administração Republicana de George W Bush tem agora que se confrontar com um Congresso dominado pelo partido Democrata, nem por isso as notícias que regularmente vão chegando do Iraque permitem concluir que se esteja a verificar algum sucesso na estratégia das tropas americanas. Além do facto comprovado de que o governo liderado pelo xiita Al Maliki continua a não apresentar soluções de natureza legislativa que atenuem as razões para o confronto com a minoria sunita, a própria redução de actividade dos insurrectos continua por demonstrar e a verificar-se, num período de tempo curto pode não significar mais que uma alteração de estratégia ou uma adaptação à maior pressão exercida nos principais centros pelo exército americano.

Sem qualquer sombra de dúvida (mesmo que se aceite como válido o argumento da redução do número de atentados) as populações continuam a enfrentar condições de vida que muito piores do que as tinham antes da invasão americana, mesmo considerando o embargo económico a que os americanos vinham sujeitando o regime de Saddam, e não se vislumbra que o actual governo (há semelhança dos anteriores) revele condições para melhorar essa situação.

Apregoar segurança em bases militares fortemente entrincheiradas ou em zonas exclusivas no interior de uma devastada Bagdad não me parece que constitua grande feito e ainda menor sinal de confiança numa efectiva normalização da vida diária dos iraquianos.

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