domingo, 22 de abril de 2007

PARANOIA

Enquanto os eleitores franceses começam hoje a decidir sobre o seu futuro presidente, perfila-se um cenário de eleição de um candidato que tem singrado no panorama político fazendo alarde de posições quase xenófobas – quem já esqueceu as suas intervenções enquanto ministro do interior, durante os conflitos do Outono de 2005 que incendiaram as principais cidades francesas, quando classificou os manifestantes de «escumalha» e afirmou que se tratava de uma «máfia de bandos organizados», factos que mais tarde os relatórios da própria polícia não confirmariam, as alterações introduzidas em 2006 no direito à imigração, traduzidas no endurecimento das condições para a regularização dos imigrantes ilegais e do reagrupamento familiar e a proposta de lei visando a prevenção da delinquência e a repressão sobre a difusão de imagens violentas através da Internet, que a Liga ODEBI[1] denuncia como um pretexto para impedir a difusão de imagens sobre a violência policial – e o mal clarificado envolvimento no processo de venda de fragatas a Taiwan, ocorrido durante a sua passagem em 2004 pelo cargo de ministro da economia.

A muito provável “viragem” mais à direita da França, não sendo nada de espantoso, pode ainda assim constituir mais um episódio naquela que parece ser uma tendência actual para o aumento das correntes nacionalistas.

Veja-se a este propósito o que actualmente ocorre na Polónia onde, ao abrigo de uma lei aprovada em Outubro de 2006, altos funcionários, advogados, professores, reitores e jornalistas têm até 15 de Maio para declarar se alguma vez colaboraram com os antigos serviços de segurança comunistas. Os que se recusem a fazê-lo ou prestem falsas declarações serão impedidos de exercer a sua profissão por um período de dez anos.

Embora para muitos portugueses isto não constitua uma novidade absoluta – os mais velhos que tenham exercido funções públicas durante o Estado Novo também tiveram que assinar declarações idênticas e quem, como o Professor Agostinho da Silva, se recusou a fazê-lo viu-se afastado dos seus postos de trabalho – nem por isso a ocorrência de desmandos desta natureza pode passar sem repúdio.

Com a crescente paranóia securitária e nacionalista, que Ignacio Ramonet, no editorial que mensalmente assina no LE MONDE DIPLOMATIQUE, compara com o macartismo[2] e conclui que o reduz a um anticomunismo amador, ainda acabaremos por ver ombrear na galeria dos infames, nomes como os dos gémeos Kaczynski (Lech, o presidente e Jaruslaw, o primeiro ministro da Polónia) e o de Sarkozy, o provável presidente francês; isto para ficarmos pelos limites da actual União Europeia…
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[1] A Liga ODEBI é uma associação de internautas destinada à defesa dos seus direitos, cuja designação resulta de um jogo de palavras sobre “haut débit” (alto débito) .

[2] Nome pelo qual ficou conhecida a política surgida nos EUA na década de 1950, caracterizando-se pelo combate às "actividades anti americanas", surgida em pela Guerra Fria; a designação teve origem no nome do senador republicano Joseph McCarthy, cuja paranóia o levou a acusar milhares de americanos, entre os quais Albert Einstein, que emigrara para os EUA fugindo da perseguição do regime nazi, de serem comunistas. A "caça às bruxas", como ficou conhecido esse período, perdurou até que a própria opinião pública americana se começou a indignar com as flagrantes violações dos direitos individuais, graças em grande parte, a actuação do jornalista Edward R. Murrow na rede americana de TV CBS (ver o excelente filme «Good Night, and Good Luck»), o que levou McCarthy ao ostracismo. (adaptado de Wikipedia).

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