Poucos ignorariam
que o actual líder do Partido Conservador britânico (cujos membros são familiarmente
designados por “tories”, reminiscência do nome de um antigo partido de
tendência conservadora que reunia a aristocracia britânica) e Primeiro-ministro
em exercício sempre fez do histrionismo uma capa sob a qual apresentou as suas
variadas versões de jornalista, político, autarca e deputado.
Conhecido pelas
suas posições populistas, mas ainda mais pelas mais variadas trapalhadas com
tem mimoseado seguidores e opositores, viu-se alcandorado a uma posição (há
semelhança de outras que desempenhou) para a qual não reunia predicados
especiais nem se preparou de forma minimamente digna.
Durante a
campanha para o referendo sobre a permanência do Reino Unido na UE, destacou-se
não pela qualidade da sua argumentação, mas pelas múltiplas deturpações e mentiras
difundidas sobre a Europa e o funcionamento das suas instituições. A tudo isto acrescentava
já o pouco recomendável apoio doutro personagem idêntico – Donald Trump – mesmo
antes de nos surpreender com esta peregrina ideia de propor a suspensão da
actividade do mais antigo Parlamento do Mundo, que por mais legal e
constitucional que seja, não é menos reveladora de uma clara faceta antidemocrática
de Boris Johnson.
Sabendo-se já que a Rainha
autoriza suspensão do parlamento britânico nem se estranha que a chefe do
governo escocês, Nicola Sturgeon, tenha dito à laia de comentário que este foi “O
dia em que a independência da Escócia se tornou inevitável” ou em que a
democracia “morreu” e que se conte já pelas centenas de milhares os que assinaram
petição contra o plano de Boris, que que outra não parece senão uma via
para contornar qualquer forma de oposição àquele que sempre foi o seu plano
original: garantir a saída do Reino Unido da UE de qualquer maneira e a qualquer
preço. Preço que será pago pela população inglesa, tenha ou não apoiado Boris
Johnson e o seu amigo Nigel Farrage (o líder do partido independentista – UKIP),
e em especial pelas gerações dos mais jovens que nem sequer votaram no referendo.