Quando
vi, há dias, as imagens de uma peça televisiva onde aparecia um Donald Trump visivelmente
incapaz de esconder a irritação e a frustração perante a evidência do convite
formal do G7 para uma reunião com o ministro dos Negócios Estrangeiros do Irão,
voltou-me à memória o sucedido em meados deste mês quando surgiram as primeiras
notícias de que «Trump
manifesta interesse em comprar a Gronelândia», a que se sucederam várias reacções,
havendo até quem tenha preferido salientar a
irónica reacção dinamarquesa, que vendo bem até nem parece exagerada.
Claro que há antecedentes
históricos da compra de territórios (os mesmos EUA compraram, no início do
século XIX, a Louisiana aos franceses, em meados desse século compraram o Alasca
aos russos e algumas dezenas de milhares de quilómetros quadrados aos vizinhos
mexicanos, para no final desse século comprarem as Ilhas Filipinas aos
espanhóis e em 1917 compraram à Dinamarca o que hoje é conhecido como as Ilhas
Virgens Americanas) mas ao que parece não há registo histórico de algum dirigente
o ter anunciado da forma que Trump agora o fez.
É
que não há palavras para descrever a afirmação do imperador do Twitter de que quer
comprar a Gronelândia para projecto imobiliário, quando são amplamente conhecidas
as potenciais riquezas minerais dum território que o aquecimento global – que Trump
continua a negar – está em vias tornar economicamente acessíveis, uma afirmação
daquele jaez é, no mínimo, insultuosa para inteligência dos habitantes da
região e do resto do planeta.
A
reafirmação, uns dias depois de que «Trump
confirma interesse em comprar a Gronelândia» e a reacção traduzida em adiar
visita à Dinamarca após ver recusada a compra da Gronelândia, apenas revela
um comportamento de quem ainda não aprendeu a ser contrariado e tem até o despautério
de ainda endereçar a responsabilidade aos dinamarqueses quando justificou o cancelamento
com a jactante afirmação: "Não
se fala assim com os EUA".
E não é apenas a atitude
de Trump que deve merecer crítica e repúdio, pois este episódio é apenas mais
uma confirmação da grande impreparação da equipa que integra a actual
administração norte-americana (que o deixa proferir este e outro tipo de alarvidades),
de pouco ou nada servindo as tentativas de branqueamento ou apaziguamento do
tipo: «Trump
e a compra da Gronelândia. Uma loucura ou um contributo para a paz mundial?»
Trump gere os assuntos
públicos norte-americanos com a mesma boçalidade que gerirá as suas empresas,
esquecendo que as relações entre Estados diferem (e muito) do modelo relacional
dependente patrão-empregado.
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