Como muitos
outros órgãos de comunicação social o
EXPRESSO publicou hoje uma peça sobre a falência do Lehman Brothers e sobre
a crise económica e financeira que ampliou e deu visibilidade.
Nela dá
especial destaque à crise do crédito imobiliário de alto risco – que terá sido
a causa próxima, mas nunca a causa principal – para uma crise que rapidamente
ultrapassou as fronteiras norte-americanas e que nem os especialistas alguma
vez conseguiram definir de forma precisa. A par do subprime outras razões deveriam ter sido apontadas, como a
excessiva alavancagem das economias, a disseminação de produtos financeiros
complexos e inadequadamente avaliados pelas agências de rating e a exigência de
resultados rápidos e de grande dimensão, como grandes responsáveis pela
situação e como alvos prioritários para a actuação dos poderes políticos.
Mas nada disso
aconteceu e hoje, dez anos volvidos e quando ainda nos debatemos com o seu rescaldo,
prefere-se esconder a dimensão do problema atrás da simples ponta do iceberg
que foi o subprime ou até a falência
do Lehman Brothers, para que tudo continue como antes, para que a economia real
(aquela onde vivem as empresas e as famílias) continue a suportar a economia de
casino que se montou em torno do flagelo global que ainda é o endividamento em excesso
e a escassez de investimento.
Dez anos
volvidos sobre o colapso que devia ter mudado as nossas vidas continuamos a assistir
à actuação desregulada e desregrada dum sistema financeiro desligado da
realidade económica global, onde se continua a permitir a transacção de
contratos derivados que ultrapassam várias vezes o valor e o montante dos
activos reais, onde se permite a amálgama entre a actividade comercial e a especulativa
e onde os grandes quadros continuam a usufruir de escandalosas compensações
pelos resultados imediatos e inúmeras vezes inflacionados por meras manobras
contabilísticas.
Depois de
injectadas biliões de unidades monetárias nos diferentes sistemas bancários
nacionais, numa manobra que mais não foi que um novo expediente para concentrar
a riqueza global nas mãos de uma ínfima percentagem de mega-ricos (agravada no
caso da Zona Euro pelo cínico discurso da necessidade de honrar as dívidas,
como se a desregulamentação, a ganância, a má gestão e a actuação tantas vezes
fraudulenta dos banksters nada
tivesse tido a ver com o problema) e de continuarmos a assistir ao estiolar das
economias por escassez de investimento (mantêm-se níveis insuficientes de
poupança enquanto as grandes fortunas continuam a beneficiar de protecções e
paraísos fiscais), a par com o aumento da concentração da riqueza, bem se devia
perguntar: qual colapso?
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