Concretizaram-se
no final da passada semana as ameaças norte-americanas de retaliação sobre a
Síria pelo uso de armas químicas. Num ataque conjunto de americanos, ingleses e
franceses a alvos criteriosamente seleccionados – um centro de pesquisa científica,
em Damasco, e dois depósitos de armas próximos de Homs – a que poucas baixas
terão provocado e de pouco ou nulo resultado prático.
Após um
período de troca de acusações entre americanos e russos, com os primeiros a
acusarem os segundos de protecção a Bashar al-Assad e estes a acusarem os
outros de falta de provas, e quando se avizinhava a chegada duma comissão
internacional para apuramento dos factos eis que a ordem de ataque foi emitida.
Ainda que o resultado tenha sido apresentado como um sucesso, consideração que
deve ser vista com as devidas cautelas logo que se soube que a Rússia fora
previamente informada do destino dos ataques, não deixaram de surgir algumas
dúvidas sobre o real e efectivo objectivo.
Não bastando a
estranha coincidência nos argumentos agora invocados com aqueles que Bush,
Blair e Aznar usaram para justificar a invasão do Iraque em 2003 e que se
viriam a revelar totalmente falsos, acresce agora a conhecida situação interna
norte-americana – a polémica em torno do apoio russo à eleição dum Trump que
parece cada vez mais preocupado em “atacar” a Rússia com forma de refutação das
críticas –, a frágil situação do governo inglês – cada vez mais contestado por
causa do Brexit e muito pouco convincente na gestão do caso Sripal – e a
delicada posição em que se encontra o presidente Macron face à recomposição
pouco europeísta do programa do novo governo alemão, que deixam pairar a
suspeita sobre as verdadeiras intenções desta acção.
Claro que a
questão do uso de armas químicas em Douma tem que ser apurada, mas duvido que
os bombardeamentos cirúrgicos, para mais antecipadamente comunicados aos
russos, tenham outro efeito prático que o de cortina de fumo para disfarçar
problemas internos dos EUA, Reino Unido e França, tanto mais que aquele não foi
o primeiro episódio de recurso a armas químicas e que situações houve (como
sucedeu em 2013 em Ghouta e abordado no post
«PRONTO
PARA SALTAR») em que mais tarde se veio a concluir que tinham sido os
próprios opositores a Assad a, de forma voluntária ou não, deflagrarem os
engenhos fornecidos pela Arábia Saudita.
Sem comentários:
Enviar um comentário