terça-feira, 11 de janeiro de 2011

REMENDOS


Quando antevi no primeiro “post” deste ano que as enormes dificuldades que Portugal iria encontrar para financiar as suas necessidades começariam a esclarecer-se logo com o leilão de BT’s que teria lugar daí a dias, não estava a realizar qualquer prodígio divinatório embora não esperasse que aquela emissão atingisse um valor seis vezes superior ao registado no início de 2010 e superior em 80% ao valor registado no leilão de Setembro[1].

Embora nunca referido directamente, este claro aumento de custo está na origem das notícias que nos últimos dias têm insistido na iminência do recurso ao FMI e que não constituirão mais que o reflexo dos anseios dos restantes membros da Zona Euro, que ao que parece continuam convencidos da possibilidade de enfrentarem a estratégia de ataque concertado contra a moeda única sem nada mudarem de essencial no seu funcionamento.

Crentes pios nas virtualidades dos “mercados” e no primado da sua supremacia, os dirigentes europeus esperam salvar o essencial (a estabilidade das suas balanças e dos seus orçamentos) enquanto aceitam sacrificar, um após outro, os membros mais fracos.

Não será assim de estranhar que alemães e franceses pareçam de acordo na necessidade de Portugal recorrer ao FMI (mesmo que se leia que «Alemanha rejeita estar a fazer pressão sobre Portugal») enquanto a imprensa anuncia que esta é uma «Semana crucial para Portugal e de alerta em Espanha», pois tal como aconteceu há uma semana, haverá lugar em Portugal a um leilão de OT’s[2].


A crer nas notícias que dão conta que «Os juros da dívida portuguesa já chegaram aos 7,3%» no mercado secundário, será de esperar que os valores que se verificarão no próximo leilão fiquem acima dos 6,806%, que foi a taxa média ponderada registada no último leilão de OT’s a 10 anos, que teve lugar em Novembro último.

Isto se privilegiarmos uma perspectiva meramente financeira para a avaliação da situação, porque quando observada numa perspectiva económica a situação nacional deveria ser apreciada pelos “mercados” como francamente melhor que antes da aprovação do orçamento, tanto mais que o governo de José Sócrates acaba de anunciar que «Défice vai ficar “claramente abaixo dos 7,3%”». A menos que afinal os tais “mercados” acreditem mais na dura realidade que resultará dos planos de austeridade e nas previsões que apontam que a «Economia portuguesa será a terceira pior do mundo em 2011» do que na bondade e eficácia dos remendos que os governantes anunciam como panaceia para os nossos males e que esta polémica constitua, afinal, mais uma peça na campanha eleitoral que decorre no país.

Porque nada acontece por acaso e a história está pejada de exemplos análogos, deveremos assistir a nova subida na taxa média ponderada do leilão que amanhã decorrerá e, muito convenientemente ao adiamento da intervenção do FEEF (Fundo Europeu de Estabilidade Financeira, EFSF na sigla inglesa) e do FMI para data posterior à reeleição (desejada) de Cavaco Silva, pelo que o mais natural é que esta ocorra imediatamente após a próxima reunião de chefes de estado da UE, que terá lugar no dia 4 de Fevereiro.

E assim continuaremos, de remendo em remendo, para ganho de uns poucos e prejuízo de todos, até que se ouça alguém gritar que o rei vai nu...


[1] Como se pode confirmar pela consulta da página do IGCP (Instituto de Gestão da Tesouraria e do Crédito Público), no primeiro leilão de 2010 de BT’s a 6meses, a taxa média ponderada foi de 0,592%, contra uma taxa de 3,686% para o leilão da semana passada, quando em Setembro a mesma taxa ponderada se fixou nos 2,045%.
[2] O anúncio pode ser lido aqui, na própria página do IGCP.

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