quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

OS NOVOS POPULISMOS


Terminado o semestre em que a Bélgica, país que atravessa uma profunda crise de identidade e de liderança, exerceu a presidência da UE, eis que lhe sucedeu no primeiro dia do ano a Hungria.


Se a frágil presidência belga surgiu numa das piores fases duma UE a braços com uma crise económica que insiste em não enfrentar, o controverso governo conservador que dirige a Hungria não tardou a juntar mais achas à fogueira; como se não bastasse a reafirmada intenção de trazer para tema central da sua presidência a questão do alargamento do Espaço Schengen à Roménia e à Bulgária (contra a manifesta oposição da França e da Alemanha), eis que a poucos dias do início do seu mandato europeu, o governo do populista Viktor Orban aprovou uma lei que limita profundamente a actividade informativa no país (que levou o PUBLICO a escrever que a «Liberdade de imprensa na Hungria acabou») depois de ter criado um imposto extraordinário sobre alguns sectores de actividade económica (telecomunicações, energia, serviços financeiros e comércio) que levou algumas empresas doutros estados-membros a solicitar a intervenção de Bruxelas, por entenderem a imposição fiscal como discriminatória e limitadora.

Recorde-se, a propósito que o actual executivo de Budapeste alcançou o poder depois do governo socialista que o precedeu não ter conseguido evitar uma intervenção do FMI, em 2008, para o resgatar da falência, medidas que o executivo de Orkan não cumpriu e poderão estar na origem do “interesse” no silenciamento da imprensa.

Duma forma ou doutra, com a Bélgica ou com a Hungria, a UE parece destinada a uma sucessão de presidências controversas (segundo esta notícia do DN, Jean Asselborn, ministro dos assuntos exteriores do Luxemburgo, já manifestou dúvidas se aquele país da Europa Central é digno de liderar a UE) numa fase em que as dificuldades são acrescidas ainda pelos ataques que o Euro está a sofrer.

Como se não bastasse a situação de ridícula e perigosa bicefalia resultante do famigerado Tratado de Lisboa, com a criação da presidência do Conselho Europeu a par com a presidência da Comissão Europeia, e a persistente incapacidade dos dirigentes europeus entenderem a verdadeira essência da crise que atravessamos e que os tem levado à adopção de políticas crescentemente orientadas para os interesses internos em detrimento dos comunitários, teremos agora ainda de suportar o ónus de um semestre onde se corre o risco de prevalecerem as mais populistas (leia-se, nacionalistas) das teses.

Sem comentários: