segunda-feira, 8 de novembro de 2010

O GUIA DE CÉSAR DAS NEVES PARA A CRISE


Com a argúcia e sentido de oportunidade que há muito lhe conhecemos, eis que a crónica semanal de César das Neves[1] nos proporciona hoje um excelente guia para enfrentarmos a crise (aquela que ele mesmo diz ser agora um dado oficial); em quatro simples lições somos informados da melhor forma de enfrentarmos uma situação perfeitamente normal, pois como o próprio diz «[a]s crises são normais, frequentes, e não são o fim do mundo. Já tivemos muitas, várias muito piores que esta, e teremos bastante mais no futuro».
Depois de o ler não pude deixar de pensar que afinal a solução é muito mais simples que parece, pois bastará aplicar a velha máxima católica apostólica romana que assegura aos mansos o reino dos céus; senão vejamos, o que o reputado economistas preconiza é tão simplesmente que nos deixemos de queixas, fantasias e acusações, trabalhemos mais e ainda mais e... a riqueza fluirá (para as contas bancárias dos poderosos)!
O que o autor não explica (nem sequer por breves instantes lhe terá ocorrido ) é como espera que uma multidão de trabalhadores despojados de tudo (até da sua dignidade) aceite pacificamente continuara trabalhar (os que ainda têm trabalho) como se nada tivesse ocorrido, como se o reino dos céus existisse e estivesse já ali ao virar da esquina.
Não constituindo novidade a confirmação que nas concepções ideológicas de César das Neves não há lugar para as pessoas, apenas para a quantidade estritamente necessária de assalariados indispensáveis para asegurar a multiplicação do investimento, já a forma quase despudorada como, em plena crise, incita os leitores à submissão e à aceitação da inevitabilidade da próxima, raia, no mínimo, o abjecto, apreciação que se manterá mesmo que se pretenda infileirar o comentário no mesmo grupo de notícias, como esta do PUBLICO, que a pouco mais de duas semanas da Greve Geral já começaram a preparar o terreno para a desmobilização dos cidadãos ou para a desvalorização da sua mobilização.


[1] Intitulada «GUIA PARA A CRISE», pode ser lida na íntegra aqui.

Sem comentários: